Como sei, o escritor Campos de Carvalho, cansado e doente, parou de escrever inclusive depois de morto. Cumpre notar que esse tipo de atitude derrotista ocorre com muita freqüência neste Brasil brasileiro. O que, além de causar, nos seus fanzocas, "arrancos de cachorro atropelado" lamentável do ponto de visto teórico, também é lacrimejantemente lamentável do ponto de vista prático por todos nós que o plagiamos desavergonhadamente.
Disse isso porque ele não precisava ter sido tão introvertido. Por exemplo, por que não seguir o exemplo de Cubas, o Brás – criado por De Assis, o Machado – e continuar tranqüilamente a sua faina literária como um defunto autor, ao invés de um autor defunto. Não phê-lo porque não ki-lo? (Valha-me Quadros, o Jânio!)
Não acredito. Brinco quando falo sério, depois de aprender a duras penas que deveria fazer exatamente o contrário. De fato, em sua derradeira entrevista (talvez tenha sido até a primeira, pois desde criancinha ele apresentava a síndrome kafkiana do Dalton Trevisan, que até hoje gosta de brincar de esconde-esconde), Campos de Carvalho diz que parou de escrever porque perdeu (e nunca mais conseguiu reencontrar, por mais que catasse) o seu insensato humor.
Ora, leitores, se ele pensava assim antes de morrer, imaginem depois que subiu aos céus (com suporte angelical ou arcangélico?). Agora, em sua quintessência, ele estava certo, não há como negar. Sem humor, a vida pesa como a pedra de Sísifo, segundo imagem equivocada utilizada pelo profeta Isaías (citado no Eclesiastes, crônica 9ª, versículo 1º), que, não sendo versado em Mitologia Grega, confundiu-o com o Atlas esmagado pelo peso da abóbada celeste.
E digo isso de cátedra, como real catedrático da disciplina Ciências Inexatas, cujo posto disputei com renomado engenheiro, também dado - ainda que casto - a curtições altamente esotéricas como essas.
Apesar dessa disputa (no bom sentido, pois nunca fui chulo; no máximo, escatológico) – que venci, alegando cientificamente ser o candidato preferido dos deuses do Himalaia e periferia –, continuamos amigos. Eu e o engenheiro, que, quis Deus, veio a impôr-se a seus pares como tradutor num famoso teste de língua. Coitado dele (eu, de minha parte, não o invejo e vice-versa), que vive tentando adivinhar o pensamento mais íntimo dos reis da cocada preta para expô-lo – com o rigor cartesiano de economista inglês – a “nosotros” que só falamos tupiniquês.
E com essa explicação severa (no sentido machadiano) e robusta (no sentido que a econometria lhe empresta) dou por encerrado o meu solitário comentário ficcional crônico sobre os múltiplos comentários técnico-aleatórios – via de regra, desfavoráveis – que recentemente se infiltraram na imprensa católica deste fabuloso país umbandista.
Quem quiser maior clareza de conteúdo ou límpido estilo, que consulte um professor de lógica. Temo, porém, que se frustre nesse intento, pois, que eu saiba, o último morreu de susto em 1956, ao descobrir que fora assassinado na obra “A Lua Vem da Ásia”, de autoria desse mesmo Campos de Carvalho, seu púbere discípulo. Como queríamos denunciar!