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Humor-->Queridas Azaléias -- 02/12/2008 - 08:57 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nas primeiras caminhadas pós-cirurgia cardíaca (que tirei de letra, antes de cair de quatro), tive o raro privilégio de contar com a companhia da Maria Victoria, minha irmã, lá se vão 50 anos. Resolvi, então, aproveitar a oportunidade para aprender, pela primeira vez nesta encarnação (neobudista que me tornei, à minha própria revelia, por força das atipicidades que tenho revelado nos textos e subtextos que já escrevi), algo sobre as plantas que ornamentavam os jardins da casa onde eu vivia. Isso depois de residir há quase vinte anos no mesmo local. Incrível e imperdoável a ignorância deste gajo sobre botânica!

Sorte minha que a Torinha conhecia quase todas as plantas. Daí o muito que aprendi nessa “excursão” ecológica. Mas, desmemoriado que sou desde que me conheço como “putinho” (para usar a carinhosa e sutil expressão vernáculo-galega – mais próxima, acreditem se puderem, do sentido etimológico original associado ao vocábulo “pureza”), já me sinto necessitado de nova incursão do gênero, desta feita munido de papel e caneta para anotar nomes, características e peculiaridades dessas criações do acaso, segundo a minha teimosa postura pseudofilosófica..

Das flores, eu não exageraria muito se dissesse que só conhecia o nome de uma e apenas uma – a azaléia. Não que esta fosse a minha flor de eleição, muito embora considere uma das maravilhas da criação os mantos de de azaléias que estendem sobre os muros dos edifícios na atravancada cidade de São Paulo.

Na verdade, votaria antes em certas orquídeas (que, aliás, não são tão inócuas quanto parecem, pois me transmitiram, pela via espiritual, duas orquites), particularmente uma de origem tailandesa, que surgiu, certa feita, na minha casa vinda não-sei-de-onde e cuja sutil beleza parece ter saído do filme “Sonhos”, do Kurosawa. E tem mais: diferente do gato (que tem - ao que se diz - três vidas) e da gente (que só tem uma – e olhe lá!), há quem diga que podem elas ser eternas! Se for mentira, eu acredito piamente! Se for ciência, não!, posto que nasci são Tomé antes de ser exilado na Índia, com a missão de evangelizar os budistas – que fiz ao contrário!

Mas o fato de lembrar-me do nome da azaléia deve-se, principalmente, a uma circunstância literária. Faz tempo que li (quando era dado a fazê-lo), num romance japonês (desses que ficam pendurados em algum lugar da minha estante), a história de uma moça que estava prestes a se casar e, conforme a tradição, se mudar para a casa dos sogros. Em meio às negociações casamenteiras, surgiu, entretanto, um obstáculo que parecia irremovível: o sogro queria – por alguma razão secreta ou mera teimosia de idoso, vez que não freqüentava o templo da “Perfect Liberty” – arrasar os arbustos de azaléia que havia no seu jardim.

Muito se discutiu, sem se chegar a um acordo. Até que, finalmente, esgotados todos os recursos da persuasão e, inclusive, da chantagem emocional, a noiva apresentou um ultimatum à família do noivo. Sem as azaléias, “bye-bye” casamento. Na época em que a li, achei admirável a história. Pelo visto, a moça mais valorizava as flores do que o casamento - atitude que revelava, por certo, uma forte individualidade, uma determinação que antecipava o temperamento da minha neta Aninha –, além de uma louvável sensibilidade poética.

Não me lembro como o episódio, afinal, se resolveu – se o casamento acabou acontecendo ou se, simplesmente, acabou antes de começar. Ficou-me, porém, a admiração pela postura altiva de uma mocinha que se recusou a embarcar em um relacionamento, supostamente definitivo, que ameaçava podar a sua personalidade antes mesmo que as azaléias desabrochassem e fossem as bodas devidamente celebradas em restaurante.”Et pour cause!” Que eu saiba do alto de toda a ignorância que acumulei em mais de meio século, o centro de equilíbrio dos povos orientais situa-se não no cérebro ou no coração, mas quatro centímetros abaixo do umbigo, ou seja, no meio das tripas.

Maldosamente, poder-se-ia cogitar, contudo, de que na China antiga (e, talvez, também no Japão antigo também - o que não passa de uma especulação e especulação é comigo mesmo, vício de economista!), os pais dessa moça teriam prejuízo. Isso porque, realizando-se, afinal, o casamento, o mercado matrimonial exigiria um dote maior, a fim de compensar o noivo pelo temperamento forte que a noiva desde então exibia. Mas esses eram costumes de outrora...


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