Você certamente já conhece o baianês, o gauchês. E o miliquês, você conhece?
Idioma do milico, o miliquês é uma língua de âmbito nacional, sem dialetos de aratacas ou gaúchos. Do Oiapoque ao Chuí, o idioma é entendido por todos os que vestem a farda verde-oliva.
Abaixo, um micro-dicionário do miliquês.
Arataca – Pessoa oriunda do Nordeste brasileiro.
Araújo – É o marujo do ar, ou seja, o militar da Aeronáutica.
Bobina – Além daquelas utilizadas pela Arma de Comunicações, para lançamento de linhas telefônicas, bobina é também sinônimo para militar enrolado.
Bóia – Comida de milico. Os anarquistas gostam de tirar um sarro: “Parasita da nação, vem comer o seu boião”.
Boletim das baias – É a novidade que corre célere no batalhão, muitas vezes apenas uma fofoca – mesmo que não tenha vindo de alguma baia, pois só as unidades hipo é que as possuem. É o mesmo que “rádio-corredor” dos Ministérios da Esplanada, em Brasília.
Caxias – É o sujeito que leva muito a sério os regulamentos militares. Pode parecer ao “paisano” que é o sujeito ideal da caserna, mas normalmente é apenas um chato.
Chá-broxante – Chá preto servido na ceia para os milicos de serviço no quartel, e para os “laranjeiras”, para acalmar a moçada à noite.
Dragão – Recruta que come o pote de combustível gelatinoso, como sobremesa, em vez de utilizá-lo como fogareiro para aquecer a ração de campanha.
Furiosa – Banda militar simples, basicamente composta de instrumentos de percussão.
Gaiola das loucas – Prédio de Brasília onde moram os coronéis do Exército mais “antigos”, que se estressam por terem seus nomes no “Play-boy”, ansiosos em saber se serão promovidos a general ou não.
Homem da capa preta – Juiz do Tribunal militar, sempre lembrado quando é instalado um IPM no batalhão.
Laranjeira – Militar, normalmente recruta ou solteiro, que dorme no quartel, porque sua família mora longe, muitas vezes em outro Estado.
Mão-de-graxa – Mecânico de viatura ou armamento.
Maria-batalhão – Moça que gosta de namorar milico, de preferência o batalhão inteiro (*). É prima-irmã da maria-gasolina, a que namora só quem tem um carro.
Material de sapa – Trata-se de material para cavar trincheiras ou espaldões, como pás e picaretas, porém pode significar jocosamente os talheres dos milicos.
Milico de pijama – Militar transferido para a reserva remunerada.
Ociosão – Atual Teatro Pedro Calmon, anexo ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Mais utilizado ultimamente, o apelido pegajoso ainda não se desgrudou.
Paisano – É o civil, todo aquele que não veste farda. “Andar à paisana” pode render detenção ao soldado, se não tiver licença para andar em trajes civis.
Papa-goiaba – Pessoa oriunda do Estado do Rio de Janeiro.
Pasta da viúva - Pasta de todo militar do Exército, que contém os documentos da família (certidões de casamento e nascimento), além de outros documentos, como seguros e pecúlios (Capemi, FAM etc.), para facilitar a vida da viúva (ou viúvo), quando o milico bater as botas.
Pé-de-banha – É o pessoal militar que trabalha no rancho – cozinheiros, copeiros, taifeiros -, muitos com a roupa e até os cabelos curtidos de gordura.
Pé-de-poeira – Integrante da Arma de Infantaria.
Pejota – Pensão judicial, é uma facada mensal no contracheque do militar, em favor da ex-esposa ou ex-companheira (ou do ex-marido/companheiro – caso do corpo feminino).
Pé preto – É como os pára-quedistas (“pés-vermelhos”), com ar superior, desdenham dos militares comuns, que usam coturnos pretos.
Periquito – Militar do Exército, que veste a farda verde-oliva.
Play-boy – Boletim que apresenta os nomes dos coronéis mais “antigos” do Exército, que concorrem ao generalato. Por fora, o Boletim não difere muito dos outros documentos, mas dentro é sacanagem pura. Ao menos é o que dizem os preteridos na promoção.
Reco – O mesmo que recruta, tem os mesmos direitos de um calouro numa faculdade, ou seja, nenhum.
Repone – Reunião de porra nenhuma, normalmente feita para os militares levar uma “mijada” do comandante.
Sandra Bréa – Galinha à Sandra Bréa é aquela carne de frango super cozida, de cor esbranquiçada, se despedaçando, com jeito de atropelada.
(*) A maria-batalhão tem até um hino:
“Soldado, você foi ingrato
me levou pro mato
e me descabaçou.
Agora sou mulher perdida
da teta caída
que você deixou.”