Meu avô sempre foi um gozador. Brincava com a meninada contando casos hilários e morrendo de rir da credulidade de nossos amiguinhos. Nós adorávamos suas brincadeiras e tínhamos o maior orgulho de ter um avô assim tão admirado. Hoje sei que o nosso privilégio era muito maior que o imaginado!...
Não apenas as crianças, mas também os adultos, achavam graça em suas brincadeiras sempre espirituosas e sem a mínima maldade.
Pois não é que meu avô, completamente careca, resolveu ensinar a um amigo uma receita para nascer cabelo? Sendo tão jeitoso na forma de inventar suas graças, o pobre coitado nem percebeu a calvície do meu avô. E ainda deu-lhe a maior atenção, tentando aprender a “fórmula mágica” que o libertaria da careca detestável!...
Inocente, o conhecido lhe perguntava:
-Então, Seu Chico, a receita dá mesmo resultado?
Ao que meu avô assentia, assegurando o crescimento de uma farta cabeleira!...
Meu avô descreveu a mistura da seguinte forma:
- Olha compadre, trata-se de uma simpatia que o senhor deverá fazer com bastante fé:
Primeiro o senhor espera a Semana Santa chegar e na sexta feira da Paixão o senhor mata uma galinha bem gorda tirando-lhe toda a banha possível.
Depois o senhor coloca a banha em uma panela e frita bastante para formar um grosso óleo.
Daí o senhor espera dar a primeira noite de lua cheia, escolhe um morro bem alto e sobe até o topo. Olhando para a lua, o senhor vai untando a careca com a banha da galinha e rezando a seguinte oração:
“Meu santo de devoção faz nascer um cabelão”...
O compadre estava com olhar estatelado diante de tanta sapiência de meu avô! E ainda embasbacado perguntou a ele:
-Mas, Seu Chico, O senhor garante que nasce cabelo mesmo?
E meu avô arrematou tirando o chapéu e mostrando a careca:
-OLHA COMPADRE, SE NASCE EU NÃO SEI NÃO!... MAS QUE DÁ UM BRILHO DANADO... AHHH ISSO DÁ!.......