O peão bem pilchado, de faca rebenque e espora, entra num bar chique de Porto Alegre, destes com homem de brinco e mulher de cabeça raspada. Vai lá para um cantinho do balcão, pede uma cachaça e fica só bombeando o movimento e tirando a poeira da goela, com sua fortinha.
Daqui a pouco senta ao lado dele uma guria com um jeito meio esquisito, pede uma vodka e puxa assunto com o índio véio.
- Tu é peão de estância mesmo?
- Eu sou. Nasci numa estância. Me criei lá. Laço, pealo e gineteio. Capo touro e cavalo. Marco o gado. Mato e carneio. Faço de tudo numa estância lá no Alegrete.
Aí o gaúcho estufa o peito e começa a cantada.
- E tu guriazinha bonita? Que que tu fazes na vida?
- Qualé meu! Eu sou lésbica.
- Lésbica?! Que que é isso?
- Eu gosto de mulher. Levanto pensando em mulher. Trabalho pensando em mulher. Almoço pensando em mulher. Deito pensando em mulher. Durmo sonhando com mulher. É isso. Tchau!
A mulher levanta e vai embora meio braba.
O peão fica ali. Termina a cachaça e pede outra. Fica matutando entretido com os pensamentos.
Nisso senta outra gatinha ao lado dele. Ele fica meio desconfiado, mas fica na dele. Aí a guria pergunta:
- Tu és peão de estância, dos legítimos?
Ele olha bem prá ela, faz uma pausa conferindo o raciocínio, e tasca:
- Pois olha, até bem pouquinho eu era... Só que agora descobri que eu sou lésbica...