Anos idos, instaurou-se em Caxias do Sul um processo-crime contra um homem - o Oliveira -, acusado de furto e morte de um porco de refinada qualidade, reprodutor nato, de propriedade de um português - o Nestor.
O suíno era "conhecido como Cachaço, raça Macau, identificável por um brinco na orelha".
Esses detalhes faziam parte da denúncia, complementada pela parte nuclear acusatória: "o incomparável reprodutor, que saciou a fome insana do malfeitor, fora posto recém no chiqueiro, onde cobrira a leitoa Pinga, comprovação que se fará com o nascimento das crias, que se consuma em 112 dias".
O advogado apresentou defesa em versos, alegando ter sido outro o suíno abatido pelo réu - com o que inválida a acusação.
O juiz, posteriormente nomeado desembargador do TJRS, proferiu sentença absolutória - também em versos com caprichadas rimas:
“Vivia feliz e faceiro,
Estimado por seus pares,
O dom-juan de chiqueiro,
O Macau do ´seu´ Soares.
Muito galante e manhoso,
Toda dama conquistava,
Embora o ar duvidoso
Que o brinco lhe emprestava.
Mas um dia o Cachaço
À pocilga disse adeus
E se foi pra outro paço
Saudade deixando aos seus.
Corre o queixoso à polícia,
Chora a leitoa trigueira,
E o processo se inicia
Contra um tal de Oliveira.
O porco é meu - exclama Nestor -,
Do chiqueiro foi tirado.
Está mentindo, é impostor,
Grita o réu, incomodado.
Porém, em meio da dor,
Vendo o porco já castrado,
Diz a porca, sem pudor:
Não o quero, está estragado!
Sem provas é impossível
Aplicar penalidade.
Vejam as partes, no cível,
De quem a paternidade”.
Cachaço, como se sabe, faleceu de forma violenta. Da leitoa Pinga não se teve mais notícias - sabendo-se apenas que - depois da sentença - ninguém em Caxias do Sul queria garantir que os filhotes que ela gerara fossem de raça.
- São viralatas! - chegava a provocar um vizinho do ´seu´ Soares.