Minha mãe é exímia contadora de estórias para fazer criança dormir. Primeiro, ela insiste em contar sempre a mesma de tal maneira que a criança relaxe sabendo que, se dormir, não perderá nenhuma novidade. Segundo, ela cria um mote que induz a criança perceber que, a partir dali, nada mais sairá a não ser repetição da mesma coisa. Este mote, em geral, é uma música bem conhecida da criança. Pode ser uma cantiga de roda, o hino nacional, ou qualquer outra coisa que se possa repetir sempre e que a criança entenda como hora de dormir.
Quando meus sobrinhos e filhas eram pequenos, ela usava e abusava desse expediente para que eles caíssem no sono e ela pudesse assistir em paz a sua novela ou o noticiário nem sempre recomendados para crianças. No entanto eles se mostravam resistentes ao máximo esperando que eles pudessem ouvir algo novo. Não raras vezes eles fizeram a avó dormir antes deles, se levantando e recomeçando a farra deixada de lado meio a contragosto.
Saber o que as crianças irão comentar é impossível de ser antecipado, mas hoje, depois de vê-los já adultos, rolam, em reuniões familiares, suas tiradas folclóricas dessa fase da vida infantil.
Uma vez, minha mãe dormiu profundamente depois de minha filha de cinco anos resistir, bravamente, ao apelo da cantoria final. Ao sair pé ante pé do quarto e fechar a porta bem devagarzinho, ela exclamou, exultante, aos que se encontravam na sala de visitas provocando-lhes o riso:
-PRONTO!... JÁ FIZ A VÓ DORMIR E POSSO SAIR PARA BRINCAR!....