Minha mãe é uma figurinha de um metro e cinqüenta e cinco cuja audácia a deixa com aparentes três metros de altura! Dona de uma fala irônica e mordaz quando “cutucada”, logo dispara respostas divertidas e pontuais ao se sentir confrontada. O que não significa que vez por outra não consiga dar uma resposta pronta! Nessas raras vezes ela silencia por “sabedoria” ou por não ter resposta mesmo! Mas fique sabendo que ela apenas postergou o que seria dito. O tempo dirá que, em momento adequado, ela tirará a resposta do baú e dará o merecido troco. E esse processo poderá demorar meses, talvez anos. Mas, que ela terá a resposta na ponta da língua, disso não duvide.
Apesar da baixa estatura, nos verdes anos da mocidade ela fazia parte do time de vôlei do Cruzeiro, em Belo Horizonte. Sempre adorou praticar esportes e não seria a altura que iria impedí-la de praticá-lo! Era eficiente levantadora embora o time soubesse que ela levava uma feroz desvantagem no caso de defender alguma cortada do time adversário. E é claro que o time contrário se aproveitava disso!
Uma vez, em uma partida de maior importância, a adversária, imensa, não a poupou e desferiu violenta cortada bem em cima dela. Não teve jeito! Ela valentemente defendeu, mas caiu estatelada e meio tonta sob os olhares da platéia! Nem teve condições de falar nada, pois levou um bom tempo para recuperar o pique do jogo. Saiu indignada e nunca pôde dizer uns bons desaforos para a antagonista. Mas guardou a lembrança do fato a vida inteira desejando ter uma chance para desaforá-la!
Foi quando, depois de completados mais de oitenta anos de idade, ao ler o necrológio do jornal, deparou com o anúncio da morte da dita pessoa.
Não teve dúvida! Em rapidíssimo reflexo, semicerrou os olhos, deu seu sorrisinho de mofa e exclamou vitoriosa:
