Com pouco tempo de casada tive de mudar-me para o norte de Minas e ali moramos por ano e meio enquanto meu então marido trabalhava em uma empreiteira como engenheiro.
A região, insalubre nos idos de 1975, foi assolada por uma epidemia de meningite, mobilizando a saúde pública que conclamou a população a se vacinar com a maior urgência.
Nessa ocasião recebia a visita de meus pais, que aproveitaram para se vacinar também. Minha mãe muito baixinha fazia contraste com meu pai, homem de um metro e noventa, forte, altivo, ereto, e com cara de poucos amigos, embora fosse um doce...
Foram armadas várias frentes de vacinação nas escolas, repartições e postos de saúde locais. As filas eram enormes e a vacinação lenta. Fomos razoavelmente cedo pegar um lugar, mas mesmo assim o procedimento lento exigia uma paciência de Jó. Estávamos conversando para distrair, quando um sujeito magrinho e com cara de ser da roça, tentou dar o golpe e “furou” a fila bem na frente do meu pai.
Vez por outra meu pai olhava para ele como que a avisá-lo do mal feito, mas o outro se fazia de morto permanecendo no mesmo lugar. Já estava engraçado ver a audácia do sujeitinho perto da figura enorme de meu pai.
Parece que o homem foi se cansando da espera, e repentinamente perguntou a meu pai:
- O senhor poderia me explicar para quê é essa fila?
Aí que ficou mais engraçada a situação... Além de avançar bem à frente de um homenzarrão, não tinha a mínima idéia do que fazia ali!... Aí foi demais para meu pai, que era um tremendo gozador e legítimo herdeiro do meu avô.
Ele olhou para o homenzinho e respondeu:
- Essa fila é para ganhar dinheiro! O senhor espera e quando chegar sua vez vai ganhar uma boa soma!
O homem olhava para ele com ar de desconfiança, olhou para os lados tentando ter noção do que estava acontecendo, e ao perceber a real razão do acontecimento, tratou de “dar no pé”.
Não sem antes olhar firme para meu pai e dizer: