Sempre fui muito chegada ao meu pai. Tivemos durante toda a vida uma relação especial de afeto e cumplicidade.
Talvez devido ao fato dele ter tido a profissão de delegado primeiro e depois Juiz de Direito, em que a vida era mostrada da maneira mais áspera, sempre gostou do trato dos filhos como forma de amenizar seu olhar da parte mais feia da existência.
Como única mulher, ganhei uma atenção especial e éramos bastante entrosados. Lembro-me dele contando histórias para eu dormir, ensinando a jogar baralho, e fazíamos parceiradas com minha mãe e irmão mais velho.Era sempre ele quem estendia o cobertor à noite, prendendo-o ao colchão para que não saísse deixando-me descoberta!
São muitas as recordações!...
Nada mais natural do que, quando pequena, ao ser perguntada sobre com quem iria me casar, eu imediatamente responder:
-Vou casar-me com meu pai!
Acharam graça, mas minha mãe explicou que ela já havia se casado com ele primeiro.E então? Como iria fazer?
E ficaram aguardando para ver o que eu responderia.
Pensei, pensei e após algum tempo afiei a língua, e saí-me com essa:
-MÃE, VOCÊ JÁ SE CASOU UMA VEZ! AGORA É A “MINHA” VEZ!....
....................................
Esse acontecimento acabou se transformando em uma poesia de autoria do meu pai, em que conta a cena de maneira jocosa:
INFANTILIDADE
Almir Paula Lima
Pergunta a mamãe brejeira
À filhinha mexedeira:
-Casar com quem você vai?
Responde após um instante
A criança triunfante:
-Vou casar-me com meu pai!
Não pode, mamãe lhe diz,
Pois seu pai primeiro quis
Casar-se comigo... Entende?
E a menina admirada
Fica um momento calada
Para ver se compreende...
Depois satisfeita fala
Enchendo de riso a sala:
Você, mãe, não entendeu!
Se já se casou – uai! –
Uma vez com o meu pai
Quem casa agora sou eu!...