A família de minha mãe é enorme. Imagine só... Ela, caçula de treze! Acrescente ainda os maridos, filhos e famílias dos maridos, quando se incorporavam por laços de amizade. Até hoje brinco que se for fazer rodízio diário visitando os primos que ainda tenho, talvez volte à casa do primeiro visitado depois de mais de um ano!
Tanto de um lado quanto do outro, as dificuldades financeiras a serem superadas foram enormes! Portanto, férias só eram vividas visitando os parentes! Na ocasião matavam a saudade uns dos outros, ao mesmo tempo em que se tirava um descanso merecido depois de um ano de labor. Esse rodízio de férias era enfrentado por todos da família, pois se um dia eram visitantes, em outro momento seriam os visitados! Ficava um meio “barato” de sair de casa.
Mas como diz o ditado, o barato às vezes pode sair caro! O resultado, além do prazer de rever o parente, era uma canseira enorme na dona de casa que hospedava aquele monte de gente. Fora as crianças que se juntavam, brincavam e brigavam na mesma proporção. Talvez mais brigassem que brincassem!...
O visitante, assim que percebia que os ânimos estavam para estourar, sempre dava um jeitinho de dar uma saída estratégica, ir passear em algum ponto turístico da cidade, para dar a devida folga. Mesmo assim sobrava muito serviço para a dona da casa, que tinha de fazer almoço, servir a criançada, e ainda por cima arrumar a bagunça formada pela falta de espaço.
Hoje ninguém mais imagina uma situação dessas. Os tempos são outros e existem mil e uma alternativas para resolver qualquer tipo de aperto. Naquela época da minha meninice isso era o comum, e até certo ponto passava despercebido por todos ou era aceito com naturalidade como parte do contexto. E é claro, tinha a alegria imensa dos encontros, dos assuntos postos em dia, do reviver as histórias familiares, do aconchego tão necessário. O que não significa que era só prazer!...
Foi num dia desses de confusão total que minha mãe, hóspede na casa de minha tia Mahita, em Belo Horizonte, resolveu dar uma volta recebendo a sugestão de ir visitar a Fundação Ezequiel Dias, onde existe um criatório de cobras para produzir o soro antiofídico.
Minha tia concordou meio a contragosto, pois já estava com o almoço quase pronto, ansiosa por ficar livre do serviço e curtir as conversas enquanto descansava para o próximo “round” do jantar! Pediu a todos que observassem o horário da refeição e não se atrasassem demais.
Mas, - já viram, não? – o passeio acabou demorando mais que o previsto, com as crianças interessadas em ver como era o processo de produção do soro...
Chegamos todos atrasadíssimos e minha tia já estava nervosa com a demora não poupando reclamações feitas à minha avó Elisa, que ouvia tudo em silêncio total como era seu costume. Aliás, sua grande virtude era o silêncio seguido de olhar observador e investigativo.
Ao colocarmos os pés em casa, minha avó, já na sala esperando, ouviu as animadas conversas sobre o passeio, com a criançada discorrendo sobre a quantidade de cobras que havia conhecido e o quanto elas eram perigosas.
Ao que, maliciosamente considerou, dizendo para todos:
- PARA CONHECEREM COBRAS PERIGOSAS NEM PRECISAVAM SAIR DE CASA! AQUI MESMO TEM UMA CASCAVEL ESPERANDO VOCÊS!...