Tinha treze anos de idade quando fui passar férias na casa de um tio muito querido, já comentado em um texto chamado “O Gosto Amargo da Cana”. Gostava muito de ficar na casa dele. Ele era divertido, herdara do pai a mesma malícia irônica e bem humorada de aproveitar as situações comuns do dia a dia, transformando-as em cenas hilárias que ainda hoje mantenho na memória e guardo com carinho.
Ainda usufruía a companhia de cinco primos sendo que o mais novo era da mesma idade que eu. Entrava na condição de filha, e meu maior prazer era entrar na fila para receber uma “semanada” que meu tio dava aos filhos e generosamente me incluía, para delírio meu!
Minha tia, extremamente bem informada, conhecia tudo sobre Bíblia e cultura geral. Hoje sei que não era só imaginação. Era realidade absoluta. Conta hoje com 99 anos e já começa a dar sinais de esquecimentos, mas - acredite se quiser! – a “danadinha” começou a estudar espanhol bem depois dos oitenta, e tornou-se fluente no conhecimento da língua.
Pelo que podem ver, era mesmo uma delícia passar férias com a família e sempre me dei bem com todos eles.
Minha tia Prudenciana –esse é seu nome - sempre foi católica devota, e sempre disposta a ensinar-me o que podia sobre a religião e história dos seus santos de devoção.
Eu ia para lá e comprava minhas revistinhas de palavras cruzadas, hábito que preservo até hoje, e, nos espaços entre brincadeiras, passeios e muitas conversas, ia ampliando o meu vocabulário. Nestas horas é que a presença dessa minha tia era extremamente importante. Qualquer dúvida era imediatamente sanada por ela, que sempre teve um vocabulário extenso e primoroso!
Certa vez, fazendo minhas palavras cruzadas, encontrei um conceito que não consegui resolver. Lá na revista pedia uma das doze tribos de Israel com três letras. Nem pisquei!... Claro que a primeira pessoa imaginada para solucionar minha dúvida foi minha tia!..
Chamei-a e pedi:
-Tia! Estou com uma palavra aqui que não consigo resolver... É sobre religião e a senhora por certo saberá responder!
Atenta, ela se dispôs a me ajudar. E eu lhe disse do que se tratava. Imediatamente ela pegou a Bíblia, encontrou rapidamente o trecho que falava sobre o assunto e o leu para mim. Depois de contar como foi a divisão, mandou que eu escrevesse em uma folha o nome de todas as tribos em ordem cronológica –do mais velho até o mais novo- dos doze filhos de Jacó.
A partir daí, sabatinou esses nomes durante as minhas férias todas, até que eu decorasse tudo!
E eu, que desejava apenas uma delas com três letras, fiquei sabendo todas elas, e em ordem!
Hoje, passados mais de quarenta anos (!!!) ainda sei de cór todas elas, conforme me ensinou.... Duvidam? Pois provo: