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Humor-->O VEXAME (31) -- 28/12/2010 - 22:32 (ANGELA FARIA DE PAULA LIMA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O VEXAME...

Desde que comecei a escrever os contos de humor da família, estou criando coragem para contar aquele fato que, para mim foi o melhor ( ou o pior!!!!) de todos. Acreditem ou não, tenho pensado demais sobre a propriedade de contar o sucedido, ainda mais que o fato deu-se através da minha “ofídica” língua afiada!

Já tive oportunidade de dizer em vários textos, o quanto fui podada pela condição feminina e de época... Inclusive já lamentei diversas vezes o tempo que imaginei perdido por tamanha “marcação” de meus pais, quanto à extensão de liberdade a ser-me permitida e que sempre achei muito pequena...

Mas, diante de minhas reminiscências, começo a acreditar que eles tiveram absoluta razão no que fizeram em matéria de bloquear certas “liberdades”...
Hoje, quando deparo com minha alma livre e sei o tamanho exato dos sonhos e fantasias que tenho capacidade de aceitar e chegar, percebo que, (na ótica do que meus pais teriam condições de suportar), o que foi feito por eles, foi apenas um trabalho em defesa própria...

Explico melhor... Educamos nossos filhos na medida em que damos conta de aceitar as diferenças de hábitos e avanço natural dos tempos... Podamos nossos filhos naquilo que temos certeza que não suportaremos lidar, mesmo achando que eles estão certos e “as modas” mudem!

Sempre tive uma alma livre. Por mais que podassem minhas asas, aqui dentro de mim nada nunca foi podado. Aceitei as regras, curvei-me à realidade do momento, mas meu íntimo permaneceu livre e irritantemente libertário. Hoje, eu mesma me vigio ao sentir a imensa ousadia que ainda possuo, sabendo das tantas estradas não percorridas,que não mais serão conhecidas. Hoje, eu mesma não suportaria essa “menina travessa” que existe dentro de mim fazendo o que já está fora do meu tempo de viver!... Criei espírito crítico. Foi meu pecado maior... Virei minha própria mãe e pai! Azar o meu!

Portanto fico pensando se ainda pego aquela menina de outrora, livre de conceitos e barreiras e a exponho, adulta que virei!

Querem saber? Nem que seja meu último ato de coragem nessa vida, vou fazer essa travessura! Conto sim, quem eu era antes que eu mesma me podasse! Preparados?

Eu devia ter uns quatro ou cinco anos, não mais que isso. Havíamos acabado de mudar para Pirapora, por força do trabalho de meu pai, delegado nessa ocasião... Naquela época ainda não havia o costume de ver protestante ocupando cargos mais influentes ou marcantes. Meu pai seria o primeiro a chegar naquelas bandas, e a Igreja Presbiteriana local estava em polvorosa, com enorme orgulho, e – quem sabe? – até com uma pontinha de satisfação de ver, finalmente, uma oportunidade de responder a certos ataques comuns daquele tempo!

As igrejas presbiterianas ainda guardam certos hábitos desde tempos ancestrais, como o de apresentar aos seus afiliados, tanto os visitantes quanto os novos freqüentadores, o que seria o nosso caso. O serviço religioso de domingo, de maneira geral, começa com a Escola Dominical, quando os grupos são divididos por idade e recebem instrução religiosa de acordo com sua faixa etária. Depois, reúnem-se para o Culto, quando fazem as apresentações dos visitantes, dão os recados e oram em despedida. Em síntese, a cerimônia oficial transcorre assim.

Pois bem... Ao chegarmos à igreja local, imediatamente os membros da minha família foram encaminhados às suas respectivas salas de estudo.

No meu caso, sendo um pouco mais alta que a média, puseram-me em diversas salas, sempre mudando assim que percebiam que eu estava fora da classificação do grupo. Nesse momento é que eu comecei a perder a paciência...

Quando eu chegava, a professora perguntava:
- Qual é o seu nome? Quantos anos você tem? De onde veio?

E eu:
Tenho cinco anos. Meu nome é Ângela Faria de Paula Lima. Sou filha do delegado...

E a professora:
-Ah! Que menina bonita! Mas seu lugar não é aqui, meu bem! Vou levá-la para outra sala!...

E lá ia eu para outro interrogatório... Mesmas perguntas, mesmas respostas... E aquilo me chateando. O atrevimento cada vez mais crescente, precisando de escoadouro...

Lá pela quarta ou quinta vez, encaixaram-me em uma sala, e eu fiquei distraída até a hora do culto final.

No encerramento dos trabalhos da parte da manhã, passaram às apresentações. Dessa vez, a toda a comunidade reunida. No momento próprio para isso, o pastor orgulhosamente, pediu à família do delegado novo que se levantasse e se apresentasse. Ficamos todos em pé: meus pais, meu irmão mais velho e eu. Meu pai encabeçou a lista dizendo não só seu nome, mas também da satisfação da família em comungar com eles o culto religioso. Sentou-se logo após.

Minha mãe, também se apresentou, dizendo seu nome, e sentou-se novamente.

Meu irmão repetiu o mesmo gesto...

Quando chegou a minha vez, já enjoada de tanto ter falado o meu nome, empaquei e fiquei muda... Minha mãe, já me conhecendo bem, olhou-me com reprovação e sutilmente deu-me um belo beliscão para que eu me apressasse... E o pastor, pensando que era timidez, deu uma ajudada:
-Qual é o seu nome meu bem?...

Não tive dúvida! Em represália ao beliscão recebido e à obrigação de repetir pela enésima vez o que já dava por demais sabido, respondi alto e bom som, para total horror de meus pais:

-Meu nome é...

“COCOZEIRA” DE PAULA LIMA!

Devo ter ficado uns três dias sem poder sentar, com as chineladas que levei ao chegar a nossa casa...

Muitos anos depois, relembrando o fato, minha mãe, irônicamente riu, comentando com meu pai:

-AINDA BEM QUE ELA RETIROU O FARIA DA MINHA FAMÍLIA E MANTEVE SÓ O PARENTESCO DE SUA PARTE!...
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