Meu avô paterno, o Vô Chico, fazia o rodízio na casa dos filhos e com isso, participava da vida de todos, especialmente dos netos. Os amigos sabiam que ele viajava, mas que em data certa estava de volta. Já se tornara um hábito esperá-lo. Era boa companhia, arrebanhava amizades facilmente pelo seu temperamento bem humorado e muito desarmado. Achava graça nos azares da vida e não se incomodava de ser o “perdedor” nas histórias que contava sobre si mesmo.
Brincava com a meninada, inventava estórias engraçadas para os netos. Lembro-me de uma, sobre um homem que morava na “Terra do Patetétu”, flagrante alusão ao Pateta é tu! E nós não desconfiávamos que , na verdade, ele fazia jogo de palavras e sugeria que a gente é que era o pateta da estória!
Só muito depois de crescidos é que nos demos conta de que o maior gozador era ele! A meninada da vizinhança ficava “louca” pela sua volta para ouvir seus casos enquanto ele descascava laranja baiana fazendo um corte em cone à guisa de copo para a gente apertar e encher de caldo! E nenhum avô da redondeza sabia essas artes! Sentiamo-nos os únicos netos com avô tão especial! E ele se deliciando com a nossa inocência enquanto contava estórias mirabolantes como se fosse tudo verdade... E a gente acreditando piamente!...
Pois uma vez, ao retornar para mais uma temporada na casa do meu tio médico, a criançada juntou para ouvir as novas estórias (talvez as mesmas antigas em embalagem nova)!
Só que um dos meninos olhou para ele e resolveu fazer uma observação:
- “Vô” Chico!... Quando o senhor saiu daqui o senhor era tão feio!