Texto publicado no JR - Jornal Notícias, (www.jornalnoticias.com.br),na edição de 20/07/2012.
O Pé-de-Pano de Sertãozinho também não sabia, em sua juventude, como conquistar uma mulher. Ele pensava que era só pedir... Certas coisas, o Pé-de-Pano aprendeu com o tempo que não se pede, --- conquista-se!
E coisas da noite na cama podem sofrer (e quase que sempre sofrem!) consequências do que foi houve no dia.
“Quê?”, falaria o Pé-de-Pano de então, “noite é noite, dia é dia”...
Ele só aprendeu de fato que amor não se pede, se conquista, quando certa noite em que ia ao banho, então ainda casado, viu a esposa dormindo, e a desejou...
Mal coberta, ela parecia oferecer o que ele estava querendo... Até chegou a imaginar que ela não estaria dormindo, fingiria, oferecendo-se...
Esquecendo-se até do banho e do mau cheiro que exalava de si, tirou a cueca, foi à cama, e chegando bem perto do ouvido dela falou baixinho:
---Oi... Tô sem cueca!
Aí ela, meio que dormindo:
---Ah...?!... Amanhã eu lavo uma...
E virou-se para o outro lado, para dar sequência ao sono.
Mas ele, já alisando... os cabelos compridos dela, insistiu:
---Eu quero amá-la!
Aí ela, já impaciente, mas sem abrir os olhos, disse:
---Está em cima do guarda-roupa.
Aí o Pé-de-Pano de Sertãozinho, fedido, peladão e excitado, já ficando aborrecido, ainda resolveu persistir com voz mansa:
---Eu vou amar-te...
Aí ela não aguentou! Baita olhos arregalados, ela sentou-se na cama, toda irada e descabelada, e sacudindo os braços cheios de pulseiras, que batendo umas nas outras emitiram um som bizarro na noite silenciosa de Sertãozinho, gritou:
---Vá a Marte, vá a Júbiter, vá à puta que o pariu, mas me deixa dormir; merda!...
Aí o Pé-de-Pano de Sertãozinho, enfim, cabeça baixa --- duplamente ---, foi ao banho, sob o eco do som cavernoso das pulseiras. Aos poucos o silêncio de novo abocanhou a noite de Sertãozinho. Como era antes.
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ADhemyr Fortunatto - Escritor.
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