Vida de estagiário de Facebook é ...dura. Vejam só o que meu chefe compartilhou. Resolvi publicar e dar uma repensada.
Diz ele que estava atendendo no lugar onde trabalha, uma tal triagem de um lugar que quase não existe mais, um mito. Um tal de HU. Diz que lá, nesse tal lugar mítico, tem uma tal de classificação de risco e de cores. Daí que chegou um paciente para ele atender.
"Bom dia. Em que posso ajudar?"
"Doutor, não entendi nadica de nada agora"
"como assim?"
"É que vim trocar uma receita de remédio de tarja preta, doutor."
"E então?"
"só que a enfermeira me disse que meu caso é tarja branca. E agora?"
Palavras do meu mestre, que esses ouvidos de principiante ouviram e que a terra há de comer. Foi assim mesmo que ele disse? Sim, foi, faz que sim com a cabeça meu grande estimulador, entretido sabe-se lá com que alquimia, em meio a tubos de vidro, pipetas e vapores miasmáticos. Enquanto em pleno sábado à noite escrevo a pedido dele ( e não seria demais dizer que de bom grado aceito), ele se mete com essas forças volitivas, esses mercúrios coloidais e esses homúnculos filosofais, ora essa. Eu querendo aprender e ele me pondo para escrever. Como ele não me pode censurar, eu faço aqui um exercício. Veja, tem essa tal escala de cores. Diz ele, "vermelho, urgência, direto na sala de emergência; laranja, não dá canja, leva para a sala de espera idem; amarelo, é um sinal, toca levar para o meio-pau; verde e azul, tudo bem, espera um pouco também". Ao que eu crio aqui minha fantasia, embalado por pesquisas feitas em grandes cidades de países mais desenvolvidos que o nosso ( o que não é pouca coisa, temos a sétima economia do mundo, não é?). Bem, eu sempre me desvio e isto é uma das coisas que ao meu orientador desagrada; ele diz para eu ser mais comedido. Bem, lá vai.
Nestes tais países desenvolvidos, descriminalizaram as drogas. Isto quer dizer que droga se vende na drogaria! Há até um candidato que muito prezo pelo seu zelo aqui em nossas plagas que isto defende. Tem sua lógica: Descriminalizando, você vende as drogas com controle; evita as overdoses, morre-se menos e, principalmente, tira-se a figura do traficante, o rato de esgoto que ganha com a morte dos outros. Pois bem. Imaginemos algumas situações possíveis.
Uma cidade hipotética, num futuro não muito distante...
Na placa, "Farmácia Santo Daime"
Chega o camarada.
--Pois não?
--Boa noite.
--É dia.
--Ah, bom. Queria talco.
--Tens um bebê?
--Do tamanho de um. Caracas! Talco, cara, talco!
--Deixa ver a tarja.
--Aqui, ó.
A tal tarja, vermelha, pendurada num crachá meia-boca.
--Crachazinho maneiro hein?
--Pra você ver.
--Vermelho. Temos, mas o negócio é o seguinte, vai alí no narigódromo.
--Narí... O quê?
--Pois é, tarja vermelha...Tem de ser ali. Narigódromo. Nada de espirrar muito, se é que me entende. Rapé, não tem.
--Entendi.
--Próximo!
Aquela moça bem bonita, cheia de adereços, cabelos voadores e chinelo de dedo. Ela só quer ficar na boa. Exibe um crachá verde.
--Medicinal?
--Medicinal. Como adivinhou?
--Isso aí, pendurado na bolsa.
Ela dá risadas altas, à la Janis Joplin.
--Esqueci.
--Eu entendo. Medicinal, aqui tem, mas é só isso.
--Regulando?
--Agora é regulado. Caramba, aqui não tem charuto cubano não, menina.
--Certinho.
--Cabine três do setor "ambiental", espera acender a luz...estroboscóbica.
--Legal, você é legal!!!! Gostei. Você parece Rimbaud.
--Do drinque no inferno?
--Hahahaha. Deixa para lá.
--Próximo!
Só se vê o boné. O rapaz tem uns tiques estranhos. Olha para um lado, olha para outro...
--Já aviso. Não trabalhamos com dinheiro.
-- Tá tirando com minha cara, mano?
--De jeito nenhum. Também posso ajudar.
--Ah, bom. Que temos aqui?
--Deixa ver o crachá.
Tarja preta.
--Aqui, só tarja amarela,verde, azul, laranja ou vermelha. Tranquilo?
Meu mestre aquiesce com a cabeça. Um ligeiro sorriso se esboça nos lábios dele, pois que o Homúnculo deu umas pancadas do tubo; quer sair para respirar um pouco.