Não tenho pai, nem mãe. Aprendi a arte de vaqueiro com um tio que me criou. Já me acho na idade de tomar rumo na vida. Tenho dezessete anos!
— Seu tio morreu?
— Faz anos! Era marido de Nhá Santa. Mãe Nhá Santa acabou de me criar. Mas me desentendi com ela. Levei sete lapadas de relho ensebado. E fugi de casa. Aguento isso mais não, seu Generoso. Já sou homem pra enfrentar a vida. Qualquer serviço me serve.
O fazendeiro virou o rosto de lado. Precavendo-se para esconder uma ameaça de riso: ‘sete lapadas de relho ensebado,’ apresentadas como argumento, numa entrevista de emprego!...Nunca zombara da desgraça alheia, mas naquela hora, podia ser que não conseguisse se controlar. O sorriso se desfez. Ele mesmo tinha levado sete chibatadas com vergalho de touro.
***
Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim.
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