Viagens com o presidente Lula -
uma seleção de frases chulas
NOSSA, Leonencio; SCOLESE, Eduardo. Viagens com o presidente. Rio de Janeiro: Record, 2006.
“Um dos ajudantes apareceu na copa do palácio. Funcionários perguntaram o motivo da cara de tristeza.
- Levei um esporro daqueles... só não foi pior porque mais gente levou... assessor, segurança, todos levaram.
Os seguranças vibram quando o presidente dá broncas nos ajudantes-de-ordens ‘bajuladores’.
Em Puerto Iguazú [...] Lula pede que auxiliares distribuam aos presentes uma cartilha[...] O ajudante-de-ordens admite que esqueceu o material [...] Lula [...] segura a raiva e a extravasa no intervalo da reunião [...].
- Cadê as cartilhas, porra? – esbraveja o presidente.
O ajudante tenta se desculpar, meio sem jeito. [...] Lula grita ao mesmo funcionário:
- Como é que não trouxe as cartilhas? Seu incompetente.
Os demais presentes [...] vêem o auxiliar sair em disparada [...]
A bronca de Lula vira tema de conversas paralelas. É assim num bate-papo de dois diplomatas [...]:
- Se ele fala desse jeito com o ajudante-de-ordens na frente de todo mundo, imagine com os outros assessores lá no palácio”. p. 62.
“Molhado de suor, olha o ajudante-de-ordens e lhe pede uma toalha [...].
- Espere um pouco, presidente, vou buscá-la no avião – responde meio sem jeito o funcionário do Planalto, que sai em disparada pela pista do aeroporto para cumprir a ordem do presidente. [...] Lula não se contém com a cena. Enquanto a rapidez de um ajudante-de-ordens absolutamente fora de forma,o presidente cai na gargalhada e faz um comentário rápido e rasteiro a um de seus seguranças.
- Olha lá o bundão. Olha o bundão correndo para pegar a minha toalha”. P. 63.
“Manuel Anísio Gomes, sindicalista que articulou a visita dos metalúrgicos que queriam anistia por terem sido demitidos nos anos da repressão, contou [...] detalhes do encontro:
- Foi ótimo, muito bom. Ele [Lula] estava tão descontraído que beliscou a bunda do pessoal. P. 70.
“Numa audiência com [...] Marina Silva [...] o presidente ouve atentamente a opinião dela contrária às obras [de transposição do rio S. Francisco] e os argumentos favoráveis dos técnicos da área. Após ouvi-los, Lula consola a ministra:
- Marina, essa coisa de meio ambiente é igual a um exame de próstata, não dá para ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter de enfiar o dedo no cu da gente. Então,companheira, se é para enfiar, é melhor que enfiem logo.
Lula, até para mostrar personalidade [...] leva para dentro do Planalto [...] seu costume de falar palavrões [...] Entre os petistas palacianos foi difundida a idéia de que, quanto mais pesado o palavrão, maior o grau de intimidade do presidente com o interlocutor. Daí, ouvir um palavrão pode significar status.
Antes de uma cerimônia no palácio, o brincalhão Lula se aproxima de seu assessor [...] professor universitário Marco Aurélio Garcia, e diz na maior descontração:
- Marco Aurélio, eu já mandei você tomar no cu hoje?
O professor sorri”. P. 70-71.
“Um militar do Planalto, após ter ouvido reclamações [..]. tenta convencer o presidente sobre as qualidade da aeronave da Força Aérea Brasileira:
- Presidente, as coisas aqui no avião estão funcionando perfeitamente. Veja esta televisão, por exemplo. Ela é boa – disse em tom entusiasmado o auxiliar, enquanto apontava o dedo para um aparelho de tevê instalado num armário de madeira na parte superior da cabine presidencial. A tentativa do militar, porém, foi inócua. Lula tinha uma resposta preparada na ponta da língua:
- A tevê é boa porra nenhuma. A gente querendo fazer uma reforma trabalhista e você querendo manter uma televisão de bosta da época de Getúlio.
As palavras do presidente arrancaram risos dos poucos que testemunharam a cena.
- Esta tevê é tão velha como a que tem lá no Alvorada. Outro dia desisti de assistir a um filme, porque os canais da televisão ficavam mudando sozinho. Não precisava nem de controle remoto”. P. 77.
A eleição na Câmara entra pela madrugada. Lula não agüenta esperar e vai dormir. Na manhã seguinte, é informado por assessores da vitória do conterrâneo Severino Cavalcanti.
Lula não explode no momento [...]. Deixa para descontar toda sua raiva alguns minutos depois, quando recebe das mãos de assessores o discurso que fará sobre o combate à fome. Diante do ministro Celso Amorim e de auxiliares do Planalto e do Itamaraty, o presidente folheia rapidamente a papelada e a arremessa a metros de distância.
- Enfiem no cu esse discurso, caralho. Não é isso que eu quero, porra. Eu não vou ler essa merda. Vai todo mundo tomar no cu. Mudem isso, rápido”. P. 249.
“Ele chega com aparência péssima. Está visivelmente atordoado por conta do clima de tensão em Brasília [...]. Para aliviar esse estresse, nada melhor do que uma dose de caprichada de uísque [...]. Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado [...]. O ‘Lulinha paz e amor’ dos marqueteiros não está mais ali. Agora, é petista das antigas.
Com o quarto copo de uísque pela metade, pede a palavra aos presentes e coloca a política externa de seu governo em discussão. Sua primeira reserva de munição é usada contra os vizinhos [...]
- Tem hora, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que o pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos, para desconforto absoluto dos demais à mesa. [...]
Os diplomatas não conseguem acreditar naquilo que presenciam. Sem papas na língua, o petista prossegue com um ataque a Jorge Batlle:
- Aquele lá não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos.
Definitivamente não há como controlar o presidente [...]
- O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós”. p. 270-271.