Presidente era filho de uma égua manga-larga cruzada com um cavalo pangaré da fazenda vizinha. A égua estava no cio e o pangaré rompeu a cerca. Generoso comprara a égua Leopoldina, numa exposição em Montes Claros, pagara uma fortuna pelo animal e quando soubera que ela ficou prenhe de um cavalo à-toa...Reclamou do vizinho.
— Seu cavalinho desclassificado invadiu minha manga.
— Conserte a cerca!
— A cerca não é só minha. Está na divisa. Dou o arame e o senhor paga a mão-de-obra.
— Não gasto um tostão. Tem outro senão! Recue sua cerca. Está dentro de minhas terras.
— A referência é o jenipapeiro. E a cerca tá coladinha nele.
— O pé jenipapo era meu. Agora está dentro de sua fazenda.
— Não refiz a cerca. Não mudei os limites da divisa. Já estava assim, quando comprei do antigo dono — disse calmamente, Generoso.
— É rixa antiga, respondeu o outro. Mas não vai ficar assim.
Quando égua de meio-sangue pariu um potro sem raça definida, Generoso teve raiva do cavalo e o dono. Mas depois de crescido, o cavalinho revelou-se bom de campo, e recebeu o nome de Presidente. Agora derrubara o patrão na frente dos vaqueiros, e outra vez, Generoso teve raiva de Dolmênico, o dono do pangaré, que não respeitara a procedência genética de Leopoldina.
***
Adalberto Lima - fragmento de " Estrela que o vento soprou."
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