Dona Encrenca
Félix Maier
Na rua apertada, bem turbulenta,
Vive uma mulher que ninguém aguenta.
Chamam-na todos de Dona Encrenca,
É muito marrenta, solta fogo pela venta,
Com voz que ecoa, firme e sedenta,
Resolve os casos de toda tormenta.
Briga, protesta, não fica isenta,
Deixa a vizinhança sempre atenta.
Os moleques correm na mesma pimenta,
Quando ela aparece, ninguém inventa.
Com olhos que brilham, alma azarenta,
Dona Encrenca comanda, é uma tormenta!
Pune o marido com colher de polenta,
Não dá mole nem pra parenta.
Com língua afiada, é peçonhenta,
Até o diabo dela se ausenta.
Já chamaram padre com água benta,
Mas nem reza forte a faz ficar lenta.
Aos cinquenta anos, ainda rabugenta,
Deixa a vizinhança toda atenta.
Mas quem a conhece, jamais lamenta,
Há um coração sob sua vestimenta.
Entre as histórias, uma coisa salienta,
É Dona Encrenca quem a rua movimenta.
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