HIPER-SEM-GRACA _ Nada mais sem graça que o exame de próstata. Digam o que quiserem, mas a coisa é infame: você, de quatro, postado como um animalzinho sobre uma mesa de aço esmaltado, forrada com um pano de primorosa brancura... e o médico perscrutando-o com um dedinho nervoso. Você fica ali, mansinho, imaginando mil coisas: as implicações sexuais da situação... a expressão de superioridade sádica no rosto daquele mamífero metido num jaleco... a beleza estética da cena (merecia até uma foto pra colocar na estante)... o odor e os resíduos que sairão aderidos ao dedo do desgraçado... o juramento de Hipócrates etc. Mas o hiper-sem-graça mesmo é quando você se vira pro médico, com um sorrizinho amarelo, pra conferir se ele já percebeu. E, pela expressão destrambelhada e choca do mesmo, você então tem certeza de que ele, positivamente, percebeu... É inexplicável... O que ele estará pensando?.. Você não sabe como, mas... aquele mexe-e-futuca lhe causou uma vigorosa ereção! (Faltava só mandar um peidão bem estridente na hora do desengate!)
HIPER_INUSITADO _ A situação é a mesma que a do verbete anterior (hiper-sem-graça). A diferença é que a eclosão de sensualidade se dá de maneira mais explosiva. O paciente, após soltar o peido, agarra o médico e tenta beijá-lo à força, tumultuosamente. Pai de família, pacato, respeitador das leis, ele jamais sentira emoção tão desvairada, até levar sua primeira dedada. Médico e paciente entram em luta corporal, rolando pelo chão, atabalhoadamente, derrubando objetos. A luta tá equilibrada. Faz-se um silêncio prolongado agora. Eles estão travados, como dois lutadores de judô que se imobilizaram, um ao outro... Só se ouve a respiração ofegante do estranho par... Êpa! o que é isso?! _ Sim! o médico acabou também encontrando o seu lado pantera.
Naquele ninho de ratos _ um consultório impecável até um minuto atrás _ os dois deformados morais se beijam loucamente, imersos nos deliciosos frêmitos da descoberta pecaminosa. O paciente sussurra: “Eu não pude me controlar... Mas que bagunça, heim?!” E o doutor, em falsete: “Estou me sentindo tão devassa!!!”