HIPER-CABEÇA-ABERTA _ É o cara que acha tudo relativo. TUDO!.. com exceção dos seus próprios pontos de vista, claro. Alguns deles:
1 - O mundo não precisa de técnica e ciência; basta a simples magia do viver. A parte útil da tecnologia se esgotou com a invenção da bola, da prancha de surf e da bicicleta.
2 - O trabalho deveria ser proibido até os 30 anos de idade. E depois dos 35. Tal privilégio deveria ser permitido somente àquela estirpe de semideuses que já nascem com o dom da renúncia em favor do próximo. Ou seja, só os políticos deveriam trabalhar: segunda-feira no gabinete, de terça a domingo ao ar livre, com uma boa enxadinha nas mãos.
3 - O ensino escolar é uma violência que leva os jovens a desperdiçarem a fase mais mágica de suas vidas num aprendizado careta e interminável, quando bastariam apenas 2 ou 3 anos pro ensino de educação ambiental, artesanato indiano (artê), dança & expressão corporal, e rudimentos de esoterismo celta e iorubá; mais um semestre opcional em agricultura orgânica ou desobediência civil. Pra que condenar nossas crianças ao fado patético de uma carreira profissional? quarenta anos pelejando no lengalenga de uma determinada e imutável especialidade... A sociedade industrial e seu produtivismo maníaco que se fodam! Foda-se essa noção beata de crescimento humano através do desgosto! Quer fazer algo realmente produtivo? _ vá meditar pelado na cachoeira, ao som de cítaras...
4 - Numa verdadeira democracia, qualquer tipo de banditismo deveria ser encarado como uma forma de expressão válida e legítima. Por acaso os grandes bandidos não são legal e democraticamente empossados? _ Cobertos de respeito (ou melhor, de respeitabilidade) esses meninos maus, graciosamente, sugam 99 % da energia de trabalho da nação! Não seria justo deixarmos pelo menos meio porcento da bandidagem pras classes inferiores? Será que os presidiários é que são os verdadeiros traidores da pátria?.. Criminosos de sucesso não são incomodados nem mesmo com insinuações de ordem moral _ pelo contrário, continuarão a ser louvados e aclamados até o dia da Peste Final! Devíamos, por coerência, aplicar esta mesma ética puxassaquista aos malfeitores menos cheirosinhos, encarando-os simplesmente como empresários mal sucedidos ou, no mínimo, sermos um pouco mais humanos nas penalidades: tais criminosos deveriam ser trancafiados em palacetes esplêndidos ou hotéis 5 estrelas, com toda a mordomia possível, pois foi a loucura de nossa sociedade quem lhes roubou a plenitude do ser, antes de se tornarem um perigo pra comunidade. É preciso que fique bem claro a todos que os ladrões de galinha e assassinos de mãos sujas são tão merecedores de respeito quanto os ladrões de gravata e os mega-fabricantes de morte _ se não por uma questão de fotogenia, que seja por uma causa cultural: precisamos preservar nosso folclore! Isto mesmo. Porque o crime popular é uma fonte infinita de drama e fantasia. Há no banditismo pé-de-chinelo _ atabalhoado e sangrento _ uma vitalidade que, queiram ou não, anima de maneira deliciosa o imaginário popular; traz volúpia, fabulação e _ por que não? _ poesia à vida do trabalhador. A sensação de perigo traz de volta à lembrança que há sangue correndo em suas veias. Com certeza seríamos ainda mais anestesiados, não fossem tais historinhas de horror. O toque de morte e tragédia rompe temporariamente a teia da apatia mental e nos faz vislumbrar, ainda que de maneira primitiva, a nossa dimensão cósmica. Trata-se dum benefício indireto. Já os crimes financeiros, administrativos, políticos... o que há de quente e instigante neles? Crime de bacana, por mais nefasto que seja, via de regra é discreto e silencioso como a ação dum veneno; não traz nenhum enriquecimento ao fabulário nacional.
5 - As redes de televisão, com seu jornalismo sangue-de-barata, só deveriam permitir a aparição de políticos e empresários em seus programas de entrevista, acomodando-os devidamente numa cadeira elétrica acionada por um detector de mentiras.
6 - O casamento formalizado perante a lei é um ato mais perigoso e bárbaro que o estupro. Trata-se dum sacramento sustentado pela astúcia das instituições, que arrebanham pro altar apatetados e sorridentes jovenzinhos de boa fé, geração após geração. E o que são as instituições, senão uma corja de velhos brochas, ladinos e casados? E a juventude? senão uma deliciosa idade de primícias e descompromisso, que segundo as leis naturais deveria se estender pelo menos até os sessenta e nove anos de idade.
7 - Se os homens vivessem segundo a verdade natural (ou seja, se obedecessem aos espíritos das florestas em vez de a doutores) não haveria doentes pra serem explorados pela máfia da medicina.
8 - Os bebês deveriam ser separados dos pais, já no primeiro dia de vida, a fim de evitar a formação de laços de sentimentalismo doentios e exclusivistas. Isto resolveria também este vergonhoso problema social que são os menores abandonados, já que todas as crianças seriam menores abandonados (levando uma existência zen de mendicância e vagabundagem, num mundo fraterno; livres pra encontrar seu destino além do horizonte).
9 - O consumo de carne de qualquer espécie é uma das mais covardes hipocrisias da sociedade, pois se considerarmos que a alma de um homem equivale à de 7 bois, ou de 14 porcos, ou de 28 galinhas, ou de 56 peixes de tamanho médio, um verdadeiro holocausto silencioso acontece todos os dias, contra essas criaturinhas de Deus, indefesas e inocentes como crianças.
10 - A cachaça, a maconha e o chá de cogumelo são fatores fundamentais pro desenvolvimento do senso crítico e pra abertura dos horizontes espirituais do ser humano como um todo. Deveriam estar disponíveis a crianças e adolescentes em todas as escolas e postos de saúde.
12 - A atuação de um verdadeiro governo deveria se restringir às áreas de economia, moradia, energia, saúde, educação e segurança. _ Economia: mantendo os rios limpos e coibindo a formação de bancos, indústrias e comércios. Moradia e energia: fornecendo madeira através de plantações sustentadas. Saúde: fabricação de chás e emplastros fitoterápicos. Educação: marketing do cavalheirismo e das boas maneiras. Segurança: obrigando o povo a andar despido e de unhas bem aparadas... E não seria demais a criação dum serviço federal de inteligência pra providenciar um sumiço nos ambiciosos que se sentissem tentados a retomar as velhas práticas tecnológicas banidas da sociedade.