Eu vou te contar uma história
Do enterro de Dominguin,
Ele morava numa fazenda
Que fica aqui bem pertin,
No município de Itanhém
Muito perto daqui também
Essa história tem um fim.
Dominguin era um homem
Que de uma perna mancava,
Uma eu sei que era perfeita
Mas a outra era encurvada,
Pra caminhar ele padecia
Era um tal de subia e descia
Na vida só lamentava.
Acontece que um dia
A morte veio lhe visitar,
Como tinha a perna encurvada
Foi fácil de lhe achar,
Então sua família chorava
E todos se lamentavam
Até os moradores do lugar.
E com um pouco de tábuas
Lá mesmo fizeram o caixão,
Pra colocar Dominguin
Veja só que confusão,
Por ter a perna encurvada
A tampa não agasalhava
Veja que situação.
E o corpo de Dominguin
No caixão ficou estirado,
Mas sua perna encurvada
Não ficava ali deitado,
Quando forçava pra entrar
Sua cabeça vinha pro ar
Dava-me pena do coitado.
E quando o povo colocava
A cabeça no seu lugar,
A perna do outro lado
Fazia a curva no ar,
De maneira que a tampa
Não fechava nem com tranca
Para o corpo espichar.
E foi aquele rebuliço
Até quase a madrugada,
Quando uma voz eu ouvi
Pegue uma faca amolada,
Corta a perna de Dominguin
Para deixar espichadin
Esta perna encurvada.
A filha de Domiguin
Deu um grito no salão,
A perna do meu paizinho
Ninguém vai cortar não,
Se alguém quiser duvidar
É só um querer começar
Pra ir com ele no caixão.
E a turma sem saber
O que fazer com o defunto,
Quando a cabeça levantava
É que os pés ficavam junto,
Mas quando a cabeça descia
A perna embaixo escapulia
E começava o mesmo assunto.
Mas a tapera de Dominguin
Era uma casinha pequenina,
Quando uma pessoa levantava
Pegava tudo em cima,
De forma que a cumeeira
Não era lá de primeira
E feita de madeira fina.
Um que estava tentando
Colocar a tampa no caixão,
Queria fazer um furo
Pra resolver a situação,
Mas é que uma filha querida
Que amava o pai em vida
Foi logo dizendo que não.
Então foi aquela agonia
Quase que a noite inteira,
Quando um inteligente
Trepou lá na cumeeira,
Fez uma força danada
Que aquela perna curvada
Quase acertou de primeira.
A força que fez foi tanta
Que ouviu um berro no salão,
Era Dominguin levantando
E saindo daquele caixão,
Dizendo quem é o filho da puta
Que mexeu na perna curta
Diz-me quem foi esse cão?
Nisso o povo que estava
Ali naquela sentinela,
Por ver levantando o defunto
Saiu pelas portas e janela,
De forma que dominguin
Não sabia nem um tiquin
Que confusão era aquela.
Dominguin tinha uma doença
Que para ele foi cortesia,
Não matava mas deixava
A família numa agonia,
O nome dessa doença
Que não sai com qualquer crença
Tem o nome de catalepsia.
Então o tempo passou
E sua vida seguiu,
Morando aqui na região
Que daqui nunca saiu,
Vivendo sua vida pacata
Trabalhando lá na mata
Pescando peixe no rio.
Passando mais vinte anos
Dominguin tornou morrer,
Mas destra vez o pessoal
Não sabia como resolver,
Foi quando Sr. Joaquinzão
Um lambiqueiro da região
Deu o seu parecer.
Desta vez é diferente
Vamos ter paciência,
Espera o corpo feder
Para tomar providência,
Porque se agente enterrar
E o corpo tornar levantar
Vai doer a consciência.
Joaquinzão mandou fazer
E arcou com o enxoval,
Para os arranjos do defunto
Ficar tudo original,
De forma que Dominguin
Ficou muito bonitin
Com sua perninha normal.
A tampa já diferente
Com as tábuas envernizadas,
Fizeram também uma curva
Que a perna ficou encaixada,
E a família com alegria
Porque ia enterrar como queria
Aquela perna encurvada.
Chegando então no local
O povo danou a falar
Para abrir logo o caixão
Para eles tornar olhar,
Se o corpo estava perfeito
E se estava mesmo direito
Para o corpo enterrar.
É na região do vinte e dois
Na fazenda de Mozar,
Que tem uma cruz solitária
Indicando aquele lugar,
Onde Dominguin foi enterrado
E o lugar ficou marcado
Pra todo mundo achar.
Esta história é verdadeira
Muita gente presenciou,
As duas mortes de Dominguin
Foi Primo quem me contou,
Ele mora em Itanhém
Se você quiser também
Ele conta pro senhor.