- Josefa, cê vai fazê amô hoji?
- Não, Severino, tô muntcho cansada.
- Arri, égua, mais intão só vô lavá och pé...
Paulistês
- Ôrra, meu, não tô mais agüeintando eiste eingarrafameinto. Paréice que teim um farol a cada dois méitros. Prá piorá, tá seimpre choveindo.
Carioquês
Chiando mais que chaleira cheia de chá no fogo, assim fala o carioca de Ramos, que na feira de Duque de Caxias vende pardal pintado de amarelo como canário:
- Sacumé, mermão, cum menas tauba e menas prego a gente fazemos um rolimã beleza!
No ramal da Leopoldina, vendedores de bala e picolé ensurdecem os passageiros da Central, gritando o tempo todo:
- Olha a bala háus-aí.
- Olha o picolé-do-china-aí, é com auga firtrada-aí, não é auga de poço-aí, só uma merreca-aí.
Candangolês
- E aí, véi, beleza?
- Beleza, véi.
Gauchês
Na bodega “Último Gole”, antes de pegar a tramontana da roça:
- Bá, tchê, o compadre está mais ressabiado que cusco de mendigo. Ainda que mal pergunte, a comadre soube de seu caso com aquela chinoca?
- Nem te arrespondo, compadre, estou muito abichornado. Prefiro roçar dez coivaras a ter que ouvir aquela tramela lá na tapera. É pior que coice de bagual, mais doído que minuano sujo que navalha a orelha do índio véio na campanha.
Cannabinês
- É, mermão, tá tudo dominado!
- Dominado, tá tudo dominado!...
Sociologês da USP
“O real não é constituído por coisas. Nossa experiência direta e imediata nos leva a imaginar que o real é constituído por coisas (sejam elas naturais ou humanas), isto é, de objetos físicos, psíquicos, culturais oferecidos à nossa percepção e às nossas vivências.
Assim, por exemplo, costumamos dizer que uma montanha é real porque é uma coisa, que a chamamos de `montanha`, indica que ela é, pelo menos, uma `coisa-para-nós` .” (in “Que é Ideologia”, de Marilena Chauí).
PeTês
- Companheiros, enquanto militantes estruturados, precisamos dar uma maior especificidade à nossa atual colocação política, seja a nível nacional, seja a nível internacional. De sorte que ninguém tenha dúvidas de que a práxis revolucionária de nosso imarcescível Governo Paralelo, presidido pelo companheiro Lula, é terminantemente contra a mais-valia expropriada pelo FMI de todas as nações proletárias do planeta. Para isso, nossos militantes estruturados devem firmar posição dura contra a reunião de Davos e contra a globalização, e unir nossas forças em termos globalizantes às forças dos zapatistas no México, do ETA na Espanha, do IRA na Irlanda, dos muçulmanos em Kosovo, das crianças famintas do Iraque, contra o terrível bloqueio aeronaval dos EUA contra Cuba, que impede que os alimentos cheguem às mãos de nosso Comandante, e contra El Chino no Peru, que desestruturou a militância de nossos companheiros do Sendero e do Tupac Amaru. Além do apoio aos nossos companheiros do MST - depois das eleições -, para que continuem a vitoriosa expropriação dos latifúndios dos selvagens capitalistas brasileiros. Devemos apoiar sem restrições o plebiscito da dívida externa promovido pela CNB do B. A luta continua, companheiros! A luta continua, companheiras!
Informatiquês
Com o advento do computador, não se protocola mais documentos, mas se “protocoliza”. Não se imprime um texto, mas se “printa”. Não se apaga um caracter ou uma figura, mas se
“deleta”. Não se grava um arquivo de segurança, mas se “becapeia”. Não se inicia um programa, mas se “inicializa” ou se “estarteia”.
O CEO (Chief Executive Officer) liga para a secretária, que se assusta por estar navegando no site www.sexolandia.com.br:
- Preciso do paper ainda hoje, para o workshop às 4 p.m. Por isso, antes de printar, delete as palavras riscadas. Mas não esqueça de becapear no HD do server. Zipeia o file em diskete também. Antes de estartear o trabalho, sendeia um mail para o manager de Finanças, para liberar o pay down para a delivery imediata de todas as CPU e no-break previstos no quadro Excel para este mês. E não esqueça de colocar o desktop da workstation em off ao final do trabalho. Na pressa de curtir o happy hour vocês ainda vão incendiar meu office.
Economês (sempre acompanhado do pornografês)
- Precisamos melhorar o IDH de nossa população, de modo que se aproxime dos 8 décimos, como nos países do Primeiro Mundo – diz FHC.
- Para isso, precisamos pôr em prática a tese desenvolvimentista de Mendonça de Barros. Há uma demanda por empregos altamente reprimida, e ... – sugere o Ministro do Desenvolvimento.
- Não mencione o nome desse sacripanta – interrompe Malan. Se aquecermos a economia, a inflação dispara. Não podemos deixar que se repitam os últimos IGP-M, que foram muito acima do esperado. Com bons resultados em nosso superávit primário, agora que estamos em época de eleições, poderíamos, talvez, lançar um programa social de alcance nacional, como, por exemplo, o programa de renda mínima.
- Mas aí iremos endossar a proposta de nosso maior adversário político, o Senador Suplicy – corta o Ministro do Desenvolvimento.
- Não tem problema – garante FHC. A gente muda o nome para, vejamos, Programa Solidariedade Comunitária. Que vocês acham? Ah!, antes que me esqueça, Malan, libere aquela verba para a Prefeitura de Fortaleza. Nós não podemos permitir a eleição da mulher do Ciro.
Miliquês
Você certamente já conhece o baianês, o gauchês. E o miliquês, você conhece?
Idioma do milico, o miliquês é uma língua de âmbito nacional, sem dialetos de aratacas ou gaúchos. Do Oiapoque ao Chuí, o idioma é entendido por todos os que vestem a farda verde-oliva.
Abaixo, um microdicionário do miliquês.
Arataca – Pessoa oriunda do Nordeste brasileiro.
Araújo – É o marujo do ar, ou seja, o militar da Aeronáutica.
Bobina – Além daquelas utilizadas pela Arma de Comunicações, para lançamento de linhas telefônicas, bobina é também sinônimo para militar enrolado.
Bóia – Comida de milico. Os anarquistas gostam de tirar um sarro: “Parasita da nação, vem comer o seu boião”.
Boletim das baias – É a novidade que corre célere no batalhão, muitas vezes apenas uma fofoca – mesmo que não tenha vindo de alguma baia, pois só as unidades hipo é que as possuem. É o mesmo que “rádio-corredor” dos Ministérios da Esplanada, em Brasília.
Caxias – É o sujeito que leva muito a sério os regulamentos militares. Pode parecer ao “paisano” que é o sujeito ideal da caserna, mas normalmente é apenas um chato.
Chá-broxante – Chá preto servido na ceia para os milicos de serviço no quartel, e para os “laranjeiras”, para acalmar a moçada à noite.
Dragão – Recruta que come o pote de combustível gelatinoso, como sobremesa, em vez de utilizá-lo como fogareiro para aquecer a ração de campanha.
Furiosa – Banda militar simples, basicamente composta de instrumentos de percussão.
Gaiola das loucas – Prédio de Brasília onde moram os coronéis do Exército mais “antigos”, que se estressam por terem seus nomes no “Play-boy”, ansiosos em saber se serão promovidos a general ou não.
Homem da capa preta – Juiz do Tribunal militar, sempre lembrado quando é instalado um IPM no batalhão.
Laranjeira – Militar, normalmente recruta ou solteiro, que dorme no quartel, porque sua família mora longe, muitas vezes em outro Estado.
Mão-de-graxa – Mecânico de viatura ou armamento.
Maria-batalhão – Moça que gosta de namorar milico, de preferência o batalhão inteiro (*). É prima-irmã da maria-gasolina, a que namora só quem tem um carro.
Material de sapa – Trata-se de material para cavar trincheiras ou espaldões, como pás e picaretas, porém pode significar jocosamente os talheres dos milicos.
Milico de pijama – Militar transferido para a reserva remunerada.
Ociosão – Atual Teatro Pedro Calmon, anexo ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Mais utilizado ultimamente, o apelido pegajoso ainda não se desgrudou.
Paisano – É o civil, todo aquele que não veste farda. “Andar à paisana” pode render detenção ao soldado, se não tiver licença para andar em trajes civis.
Papa-goiaba – Pessoa oriunda do Estado do Rio de Janeiro.
Pasta da viúva - Pasta de todo militar do Exército, que contém os documentos da família (certidões de casamento e nascimento), além de outros documentos, como seguros e pecúlios (Capemi, FAM etc.), para facilitar a vida da viúva (ou viúvo), quando o milico bater as botas.
Pé-de-banha – É o pessoal militar que trabalha no rancho – cozinheiros, copeiros, taifeiros -, muitos com a roupa e até os cabelos curtidos de gordura.
Pé-de-poeira – Integrante da Arma de Infantaria.
Pejota – Pensão judicial, é uma facada mensal no contracheque do militar, em favor da ex-esposa ou ex-companheira (ou do ex-marido/companheiro – caso do corpo feminino).
Pé preto – É como os pára-quedistas (“pés-vermelhos”), com ar superior, desdenham dos militares comuns, que usam coturnos pretos.
Periquito – Militar do Exército, que veste a farda verde-oliva.
Play-boy – Boletim que apresenta os nomes dos coronéis mais “antigos” do Exército, que concorrem ao generalato. Por fora, o Boletim não difere muito dos outros documentos, mas dentro é sacanagem pura. Ao menos é o que dizem os preteridos na promoção.
Reco – O mesmo que recruta, tem os mesmos direitos de um calouro numa faculdade, ou seja, nenhum.
Repone – Reunião de porra nenhuma, normalmente feita para os militares levar uma “mijada” do comandante.
Sandra Bréa – Galinha à Sandra Bréa é aquela carne de frango super cozida, de cor esbranquiçada, se despedaçando, com jeito de atropelada.
(*) A maria-batalhão tem até um hino:
“Soldado, você foi ingrato
me levou pro mato
me descabaçou.
Agora sou mulher perdida
da teta caída
que você deixou.”