Será que todos os escritores tem de explicar para seus cônjuges os textos que escrevem? Espero que não! Senão, como farei eu, se um dia for escritor?
Quem já tentou escrever uma fantasia sabe como é difícil colocar no papel o que, de fato, queria contar. Depois de um trabalho imenso: dias, semanas, meses e, às vezes, anos gastos elaborando a idéia que se tornará um conto, poesia, crônica, etc, o trabalho é concluído. Hora de mostrar para a primeira pessoa que pode nos dar uma opinião “isenta” sobre a obra. A conversa começa assim:
– Querida! Você poderia ler essa crônica e me dizer a sua opinião?
– Claro, amor! É sobre o que?
– Eu não direi nada. Leia e depois fale-me o que você pensa.
– Está bem!
Minutos depois.
– Quem é Luiza? Pergunta a esposa.
– É a personagem principal.
– Isso eu sei, eu estudei na escola. Quero saber quem é ela.
– Como assim?
– Horas! Não se faça de desentendido. Não pense que eu sou boba. Onde você a conheceu?
– Mas querida!
– Não me venha com mas querida. Você escreveu isso para confessar alguma coisa. Não foi?
– Não! Essa é apenas uma crônica de um homem casado que se envolve com uma menina. Isso não tem nada haver comigo.
– Mas você é casado. E você conta como o Arlindo enganava a esposa para poder ficar com a Luiza. As desculpas são as mesmas que você usava quando dizia que ia chegar mais tarde, que o carro tinha quebrado, que ia jogar futebol com os amigos.
– Sim! As desculpas são as mesmas. Afinal! Eu precisava de desculpas para fazer a estória e essas pareciam ótimas.
– E eram. Eu sempre acreditei, mas eu jamais pensei que estava sendo enganada. Seu cretino. Eu quero o divórcio.
E foi assim que mais um escritor ficou sozinho. Ops! Sozinho não! Luiza está com ele. Agora, sempre que ele pede uma opinião, ela abana o rabo, faz que sim com a cabeça, fica com a boca aberta e os olhos fixos nele.
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Pequenos Delírios - Vol III