ANJO DA GUARDA
Quando a gente é criança nossa mãe fala dele e o coloca em nossa imaginação como um ser delicado e pequeno que mora lá no céu, bem pertinho de Deus.
Diz que ele é muito poderoso, que tem asas pequeninas com penas branquinhas nas costas e se veste com uma túnica azul, com costura dourada, de tecido cintilante. Que o seu rostinho é balofo, como o de uma criança sadia e bela, e os seus cabelos são cacheados e loirinhos.
A gente acredita, porque criança crê em tudo o que é bonito e fantástico. Ajoelha-se na beira da cama, antes de dormir, e de mãozinhas postas pede a ele que olhe pelo nosso cachorrinho que passoui o dia todo quieto, com o nariz escorrendo, e parece doentinho. Nunca deixa de pedir pra ele não deixar a gente sonhar com o bicho papão. E temos um sono gostoso com sonhos bonitos.
Quando acordamos, pela manhã, encontramos o nosso cachorro saltitante e cheio de alegria, latindo como se estivesse pedindo para brincar.
Então nos sentimos felizes e agradecemos ao nosso anjo da guarda por ele ter sido tão bonzinho e atendido os nossos pedidos.
Com o passar do tempo deixamos de acreditar em bicho papão e descobrimos que é o nosso pai que compra, no shoping, o brinquedo que encontramos sob a árvore de natal e ficamos sabendo que Papai Noel é só uma fantasia que os adultos criaram para alegrar as crianças. Descobrimos também que é a nossa irmã mais velha que faz os ovos de chocolate, na fábrica em que trabalha, que nos falaram que eram feitos por coelhinhos lá nas nuvens e deixamos assim de crer no coelho da páscoa.
Crescemos e deixamos de crer em belas fantasias para passar a viver uma dura, cruel e triste realidade. Deixamos então de acreditar em nosso anjo da guarda e as vezes até em Deus.
Nos tornamos seres humanos adultos que não pede mais com fervor pelas coisas simples e boas. Nos transformamos em pessoas descrentes, muito tristes e passamos a viver uma vida vazia.
Esquecemos que fomos crianças felizes, quando Papai Noel existia para nós e nunca deixava de trazer o nosso brinquedo. Que em toda a páscoa existia para nós um coelho branco que trazia os ovos de chocolate, que comíamos vorazmente deixando a nossa boca lambuzada, e que nesse tempo éramos alegres e encantados com a vida.
Não percebemos que o anjo da guarda deixou de tomar conta de nós só quando deixamos de ter fé nele e que Deus nunca deixou de existir, mas fomos nós que deixamos de crer Nele.
Tenho certeza que se recuperarmos as nossas fantasias, nossos sonhos e nossa fé a nossa vida voltará a deixar de ser vazia, se tornará mais bela e será imensamente prazerosa. Teremos de volta a ela o amor em família, o carinho pelo ser humano e a alegria que perdemos no dia que deixamos de ter fé e de sonhar.
CARLOS CUNHA
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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites
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