Calixto, conhecido contador de casos, costumava congregar companheiros em casa.
Com o céu colorindo e coroando o crepúsculo, Calixto conduzia, caprichosamente, a conversa. Cada conviva curtia o café ou a caninha. Calixto carregava o cachimbo, coçava a cabeça e começava:
- Certos casos carecem cuidados...
- Conta, compadre, conta!
Calixto careteava, considerando os companheiros. Calados, calculavam como Calixto conseguia comovê-los com casos de caiporas, condenações ou crimes cometidos com crueldade.
Com os corações comprimidos, custavam conter a curiosidade.
Consagrando os camaradas como confidentes, contou:
- Custódio, comerciante conhecido na cidade de Curú, criou Catarina como cria da casa. Catarina cresceu contente. Cândida e carinhosa, era cortejada cotidianamente e com cobiça. Não consentindo contato ou confiança, consolava com cortesia os contrafeitos cortejadores.
Comovida com a corte de Carlos, corajoso caçador, Catarina cuidou de conquistá-lo. Conversavam, caminhavam ou corriam no campo, cantando; o coração de Carlos cabriolava como cabritinho e o calor contagiava-lhe o corpo.
Convencidos e confiantes, confabularam o casamento.
Calixto cortou a conversa, calou, cofiou calmamente o cavanhaque:
- Conta, compadre, conta!
Com calma Calixto continuou:
- Contaram o cortejo de convidados, calcularam a celebração na capela. Comprariam a casa e, corajosos, criariam e curtiriam as crianças que chegassem.
Cascateava a candura no cômodo da casa de Calixto; casquinavam, coradas, as casamenteiras; cabreiros e comovidos os compadres cobriam a cara com o chapéu de couro.
Com uma cachimbada e uma cuspida no chão, Calixto continuo:
- Contam que o comerciante Custódio comprometeu-se com os credores da cidade...
- Credo! completou a comadre Coralina, cruzando o coração.
Calixto concordou:
- O Capeta comandou a circunstância. Cansado com as chacotas, com a centena de contas a cobrir, Custódio correu ao castelo do conde Cícero de Caldas Carvalhal, camarada caviloso, cortejava-lhe a cria.
- Claro, Custódio. Concorrerei e custearei tuas contas, contanto que Catarina case comigo!
Contrafeito, com custo, Custódio concordou com o contrato; contou a contribuição combinada, com o que o conde capturou e carregou Catarina, chorando, para o castelo.
- Canalha! – clamou Cacá.
- Cão! Chantagista! – concluiu Coralina.
- E Carlos? Como Carlos considerou o caso?
- Carlos não considerou o contrato. Correu ao castelo...
- Como conseguiu chegar?
- Cavalgando o cavalo cardão e, como um corisco, na companhia do cão Curió, cortou a campina, cruzou o carrascal (eu contei que o carrascal era cheio de cactos e chique-chiques? Creiam, coisas cutuquentas!). Curió cheirava o caminho e conduzia, certeiro, o caçador.
O conde, no castelo, carregava a carabina.
Catarina contorcia-se, clamando por clemência para Carlos.
Ah! O ciúme do conde cresceu e acertou em cheio o corpo do caçador que caiu do cavalo.
Calixto contemplando as caras contritas dos compadres, compreendeu que o contexto carecia de carinhoso comentário e complemento.
O comprazer dos companheiros compeliu o competente contador de “causos” a concluir:
- Catarina correu e colocou a cabeça de Carlos no colo; chorando e se contorcendo, clamava para o Céu: Cristo! Cristo no Calvário! Cuide do Carlos!
- Conta, compadre, conta! Cristo cuidou?
Calixto, com carinho, concordou:
- Claro! Curou completamente o Carlos e casou-o com Catarina e continua crismando-lhes a criançada na capela.
- E o conde Cícero de Caldas Carvalhal?
- O conde continua capengando pelos corredores do castelo, sem coragem de confrontar os cidadãos da cidade de Curú.