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Infantil-->A FADINHA PORTUGUESA -- 24/03/2000 - 19:18 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela acordou vagarosamente, ainda entorpecida pelos goles a mais que havia bebido naquela incrível festa que marcou o fim do inverno europeu, ocasião em que todas as fadinhas da floresta haviam se reunido para comemorar, com bailes e música, a noite mais festiva do ano. Era assim em todo o continente, onde todas as fadinhas, duendes e gnomos das florestas se reuniam para cantar, dançar, tocar e beber até não poder mais, preparando-se para o início da estação das flores.
Esfregou os olhinhos remelados, olhando surpresa ao redor.
Que ressaca! Sempre acontecia isso naquelas noites de fim de inverno. Bebia tanto extrato de pólen que entrava em parafuso e costumava acordar nos lugares mais inusitados, sempre muito longe de casa.
Pelo jeito do lugar, dessa vez havia exagerado e muito.
Não reconheceu de maneira alguma aquele canto da floresta, escuro, sombreado, que deixava filtrar somente alguns poucos raios do sol que nascia, ainda tímido, iluminando as folhas verdes do alto das árvores da mata.
E que floresta! Meu Deus! Olhando para cima a fadinha podia ver as árvores à sua volta subindo tão alto, mas tão alto, que ela não conseguia quase enxergar onde terminavam, não fosse a luz do sol manchando de douradas as copas lá em cima.
Colocou então as asinhas de libélula para funcionar e vibrar e decolou, buscando atingir um ponto mais elevado, para perceber melhor onde se encontrava. Queria voltar logo para casa, tomar o café da manhã em companhia de suas irmãzinhas, que certamente já haviam notado sua falta, embora já acostumadas aquelas ressacas e sumiços nas manhãs de fevereiro e março.
Foi então que viu os pássaros.
Incrível! Oh meu Jesus! Quantos e quantos pássaros , das mais variadas cores, espécies e tamanhos. Havia os pequeninos, multicores; os maiores, azulões, vermelhos, ou de topetes pretos. Num galho mais próximo, um pássaro enorme, todo multicolorido, de bico pontudo, negro, longo, cantou para ela num grasnar estranho, entre assustado e surpreso. Pelo jeito, tinha ido parar muito longe mesmo de casa em conseqüência da bebedeira. Nunca tinha visto nenhum daqueles pássaros e passarinhos.
Sem querer, recuando diante daquela visão incrível, a fadinha bateu com suas asinhas adejantes numa moita de flores coloridas.
Outro susto. Era como se a moita tivesse ficado ofendida!
Uma enorme quantidade de pequenos insetos brotou do interior da moitinha agitada pelas asinhas da fada: zuuummmm!!! zuummmm!!!! zooommmm!!!!
Foi envolvida por uma nuvem de mosquitos, abelhinhas e outros bicharoquinhos assustados, zunindo em todos os tons.
Apavorada, ela voou bem alto, desviando-se agora de uma multidão de borboletas de todas as cores, conseguindo ficar acima daqueles pernilongos, joaninhas e outros insetozinhos, que dificultavam seu vôo, roçando em suas asinhas vibrantes e transparentes.
Manuelita, esse era o nome da fadinha, voou ainda mais alto e examinou agora, melhor situada, como um helicóptero, a paisagem de toda a clareira da floresta. Que lugar incrível...ainda que assustador, maravilhoso. Precisava chamar suas irmãs para conhecê-lo. Era tudo, muito, mas muito lindo mesmo, inclusive uma cachoeirinha límpida, que descia pelas pedras abaixo, cantando: grulululu.....grolbolóló...grulululu...
Foi aí que Manuelita percebeu como estava quente!
Que calor intenso! Os raios de sol que banhavam seu corpinho frágil eram demasiadamente quentes, com tanto calor que quase faziam amolecer as suas asas de tecido fino e delicado. Poucos segundos exposta a um raio de sol que filtrava entre os galhos e folhas das árvores imensas e ela já suava por todos os póros. Uma temperatura realmente extranha para o início da primavera!
Manuelita agora já voava bem, muito alto. Percebeu então alguns animais que se deslocavam entre as moitas rasteira e pelas trilhas mais distantes. Nunca havia visto nada parecido, nem nos seus livrinhos de ciências da escola das fadas.
Um deles parecia um porquinho mal desenhado, o outro uma miniatura de elefante, com uma trombinha esquesita e uma espécie de tigre malhado, soltava miados estranhos, nada confiáveis, com cara de maldoso.
A fadinha ficou ainda mais assustada.
Achou que era melhor subir muito e ultrapassar o topo das árvores e tentar visualizar melhor o lugar onde se encontrava, para tentar achar o caminho de volta para casa.
Subiu, subiu, subiu e nada de chegar ao topo.
Fez um grande esforço, batendo mais as asinhas de libélula, e percebeu que, mesmo a mais de 40 metros de altura, ainda não tinha chegado no topo das árvores assombrosamente altas daquela floresta.
Dos enorme galhos, pendiam frutas as mais diversas, cheirosas, mas também de variadas cores e formatos.
Um último esforço, batendo as asinhas aceleradamente, conseguiu ultrapassar o cimo da árvore mais alta. Ufa...
A paisagem que então descortinou era assombrosa. Mais linda do que tudo o que já havia visto até aquele dia de sua infância de fadinha, de mais de 300 anos.
O céu, para começar, era de um azul profundo, infinito, com poucas nuvens. O sol, pleno, era tão quente e brilhante que parecia lançar flechas de fogo sobre a Terra. Morro abaixo, coberto pela floresta verde e interminável, podia ver também a praia e o mar. Este era verde esmeralda, incrivelmente lindo, com as ondas formando um colar de pérolas brancas ao chegarem, com forte ruído, esbravejando, no quebra mar das pedras ou morrendo suavemente nas areias branquinhas da praia, que se estendia, alongada, sem término aparente, em direção ao sul.
Mais ao fundo, uma esquadra de treze caravelas, ancoradas, balançando suavemente sobre as águas tranquilas da baía incrivelmente formosa. Homens barbados, de capacete à cabeça e espadas à cinta larga, estavam na praia, envolvidos por uma multidão de seres estranhos, nus, acobreados, que traziam penas nas cabeças, mostrando cabelos longos e negros, falando uma língua estranha, num tagarelar que zoava mais alto que o barulho dos insetos que a tinham rodeado na floresta.
Manuelita teve então a certeza que desta vez exagerara mesmo na bebida...e muito.
E foi assim que uma fadinha portuguesa que havia entrado, sem querer, no bolso de Seu Cabral, um fidalgo português da corte de Dom Manuel, o Venturoso, depois de dormir muitos dias e muitas noites, totalmente bêbada, ajudou a descobrir, no dia 22 de abril de 1500, um país chamado Brasil.
Gostou tanto, que nunca mais voltou prá Portugal...

Mário Galvão - jornalista e profissional de RP.
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