Era noite. Um índio caçava na floresta com seu filho. O menino olhava atento para tudo que o pai fazia. Pisava onde o pai pisava, observava cada movimento do pai. Ao seu lado sentia-se protegido, embora assustado com os silêncios e os ruídos que vivem nas noites das florestas.
- Pai, eu tenho medo.
- Filho, não tenhas medo. A floresta é amiga.
- Mas são tantos espinhos e tantos caminhos fechados, meu pai.
- A floresta mostra os frutos da vida e esconde os enganos da morte.
- Por que, meu pai?
- Para que os guerreiros aprendam a enxergar, meu filho.
Continuaram a procurar pela caça. A cada ruído, o pai parava e ouvia... atento. O filho agarrava-se nas pernas do pai, amedrontado.
- Fica do meu lado e não te escondas entre as minhas pernas, filho.
- Eu tenho medo, pai!
- Fica do meu lado e procura ver o que te causa medo.
- Está bem, pai...
- Escuta... O que é aquele ruído?
- É um pássaro cantando, pai.
- Tens medo de pássaros?
- Não, pai. Eu gosto deles.
E assim foram caminhando cada vez mais para dentro da floresta.
De repente, ouviram um ruído. A luz da lua mostrou que era um porco do mato. O pai prepara a flecha.
- Filho, lá está nossa caça!
- Pai, estou vendo um brilho estranho ali embaixo entre as árvores. Deixa o porco do mato, vamos caçar aquele brilho que eu nunca vi!
- Quieto, filho. O porco do mato é nosso alimento.
- Mas, pai! Aquele brilho parece mais bonito. Vem!
- Cala-te!
O pai dispara a flecha certeira. Enquanto isso, o filho corre na direção da luz estranha. O pai vai buscar a caça abatida, quando ouve o grito do filho. Corre na direção do brilho. Era a luz da lua navegando nas águas de um rio.
- Meu filho! - grita o pai.
- Pai...
Pai procura o filho com os olhos. A luz da lua, como um sorriso no céu, ilumina as águas do rio. Pai mergulha e nada na direção do filho.
Súbito, surge uma nuvem no céu e esconde a lua. Pai olha o céu revoltado e nada sem rumo pelo rio...
Já desesperado, Pai olha novamente para o céu... Uma lágrima cai dos seus olhos e ele pede:
- Jaci, não me abandones agora...
Um vento forte se apresenta e afasta a nuvem. A lua reflete nas águas do rio. Pai vê o filho se debatendo nas águas. Nada rápido e o agarra. Logo estão deitados na margem do rio, seguros, abraçados, chorando...
- Filho, por que foste buscar o que a floresta escondia e deixaste de ver o alimento que ela te mostrava?
- Eu não sabia, meu pai...
- Então aprende, filho. E não repete esse erro, que quase te custou a vida...
- Tu me salvaste, pai...
- Não, meu filho. Um sorriso te salvou...
- E como pode um sorriso ter salvo minha vida, meu pai?
- Olha o céu... O que vês?
- É Jaci sorrindo, meu pai.
- Pois o sorriso dela te iluminou e salvou tua vida...
Pai pega o filho no colo e voltam felizes para a tribo...