- Luísa, aconteceu uma coisa chata.
- O que foi?
- O cachorro fugiu e o carro o pegou.
- Ai, Ricardo... Morreu?
- Infelizmente.
- Que chato! Pobrezinho... O que vamos dizer ao Pedrinho?
- A verdade.
- Claro, claro. Ele acabou de entrar no quarto. Vá até lá e conte de uma vez.
- É... Não vai ser fácil. Papai se foi há menos de dois meses. Essa será mais uma perda para o menino.
- Concordo. Quem vive bastante vê muita gente deixar a vida. Experiência triste essa. As perdas do Pedrinho começaram cedo demais.
- Não é bem assim, Luísa. Existem milhares de crianças que não chegam a conhecer os próprios pais, não tem família, ninguém. E nós estamos aqui, ao lado do Pedrinho. A vida não tem sido tão cruel assim com ele.
- É... Você está certo. Confio no seu jeito especial para dar notícias delicadas.
- Pedrinho, o que você está fazendo aí?
- Estou desenhando nossa casa, pai.
- Posso ver?
- Ainda não. Só depois que eu terminar. Quase que eu desenho aquela cadeira de abrir e fechar que ficava na varanda. O vovô adorava se sentar nela... Depois eu lembrei que vou botar a cadeira no desenho do céu, que vou fazer depois desse aqui.
- Ah, é? Será que não existe cadeira de abrir e fechar lá no céu?
- Não sei... Mas no meu desenho vai ter.
- Então, meu filho, aproveita e desenha também uma casinha para o Alvim.
- No céu!?
- É... Alguém precisava levar o jornal de manhã para o seu avô.
- Pai, e aquela história de que cachorro abandonado na rua pode ser pego pela carrocinha e depois virar sabão? Tem certeza que o Alvim foi mesmo direto para o céu?
- Tenho, meu filho.
- E ele não vai virar sabão?
- Claro que não! Alguma vez papai mentiu pra você?
- Não, nunca mentiu. Mamãe também diz que você sempre conta a verdade.
- Então, pode perguntar a ela...
- Pai, já vai começar o desenho do Pinochio. Liga a televisão!
- Ainda falta, meu filho. Estão passando os comerciais.
- Paaai, olha ali aquela propaganda de sabão em pó: "Alvim - o sabão que lava mais branco."
- Pedrinho, é só uma coincid...
- MANHÊÊÊÊ!!!!!!
