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C i n d e r e l a Há muito tempo, aconteceu que a esposa de um rico comerciante adoeceu gravemente e sentindo seu fim se aproximar chamou sua única filha e disse: - Querida filha, continue piedosa e boa menina que Deus a protegerá sempre. Lá do céu olharei por você e estarei sempre a seu lado. Mal acabou de dizer isso, fechou os olhos e morreu. A jovem ia todos os dias no túmulo da mãe, sempre chorando muito. Veio o inverno, e a neve cobriu o túmulo com seu alvo manto. Chegou a primavera e o sol derreteu a neve. Foi então que o viúvo resolveu se casar outra vez. A nova esposa trouxe suas duas filhas, ambas bonitas, mas só exteriormente. As duas tinham a alma feia e cruel. A partir desse momento dias difíceis começaram para a pobre enteada. - Essa imbecil não vai ficar no quarto conosco! - Reclamaram as moças. O lugar dela é na cozinha! Se quiser comer pão, que trabalhe! Tiraram-lhe o vestido bonito que ela usava, obrigaram-na a vestir outro, velho e desbotado e a calçar tamancos. - Vejam só como está toda enfeitada a orgulhosa princesinha de antes! - disseram a rir levando-a para a cozinha. A partir de então, ela foi obrigada a trabalhar, da manhã à noite, nos serviços mais pesados. Tinha que se levantar de madrugada para ir buscar água e acender o fogo. Só ela cozinhava e lavava os pratos para todos. Como se tudo isso não bastasse, as irmãs caçoavam dela e a humilhavam. Espalhavam lentilhas e feijões nas cinzas do fogão e obrigavam-na a catar um a um. À noite, exausta de tanto trabalhar, a jovem não tinha onde dormir e era obrigada a se deitar nas cinzas do fogão. E como andasse sempre suja e cheia de cinza só a chamavam de Cinderela. Uma vez, o pai resolveu ir a uma feira. Antes de sair, perguntou às enteadas o que desejavam que ele trouxesse. - Vestidos bonitos, disse uma. - Pérolas e pedras preciosas, disse a outra. - E você, Cinderela, o que vai querer? - perguntou o pai. - No caminho de volta, pai, quebre o primeiro ramo que bater no seu chapéu e traga-o para mim. Ele partiu para a feira, comprou vestidos bonitos para uma das enteadas, pérolas e pedras preciosas para a outra e, de volta para casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de aveleira bateu no seu chapéu. Ele quebrou o ramo e levou-o. Chegando em casa, deu às enteadas o que haviam pedido e à Cinderela, o ramo de aveleira. Ela agradeceu, levou o ramo para o túmulo da mãe, plantou-o ali, e chorou tanto que suas lágrimas regaram o ramo. Ele cresceu e se tornou uma aveleira linda. Três vezes, todos os dias, a menina ia chorar e rezar embaixo dela. Sempre que a via chegar, um passarinho branco voava para a árvore e, se a ouvia pedir baixinho alguma coisa, jogava-lhe o que ela havia pedido. Um dia, o rei mandou anunciar uma festa, que duraria três dias. Todas as jovens bonitas do reino seriam convidadas, pois o filho dele queria escolher entre elas aquela que seria sua futura esposa. e quando souberam que também deveriam comparecer, as duas filhas da madrasta ficaram contentíssimas. - Cinderela! Venha pentear nosso cabelo, escovar nossos sapatos e nos ajudar a vestir, pois vamos a uma festa no castelo do rei! Cinderela obedeceu chorando, porque ela também queria ir ao baile. Perguntou à madrasta se poderia ir, e esta respondeu: - Você Cinderela! Suja e cheia de pó está querendo ir à festa? Como vai dançar se não tem roupa nem sapatos? Mas Cinderela insistiu tanto que afinal ela disse: - Está bem. Eu despejei nas cinzas do fogão um tacho cheio de lentilhas. Se você conseguir catá-las todas em duas horas, poderá ir. A jovem saiu pela porta dos fundos, correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir, vieram ás rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. As outras avezinhas faziam o mesmo. Não levou nem uma hora, o tacho ficou cheio e as aves todas voaram para fora. Cheia de alegria, a menina pegou o tacho e levou para a madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Porém a madrasta disse: - Não, Cinderela. Você não tem roupa e não sabe dançar. Só serviria de caçoada para os outros. Como a menina começou a chorar, ela propôs: - Se você conseguir catar dois tachos de lentilhas nas cinzas em uma hora poderá ir conosco, enquanto pensava consigo mesma: “Isso ela não vai conseguir”. Assim que a madrasta acabou de espalhar os grãos nas cinzas, Cinderela correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! E entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir vieram as rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. Os outros pássaros faziam o mesmo. Não passou nem meia hora, e os dois tachos ficaram cheios. As aves se foram voando pela janela. Então, a menina levou os dois tachos para a madrasta, certa de que, desta vez, poderia ir à festa, porém, a madrasta disse: - Não adianta Cinderela! Você não vai ao baile! Não tem vestido, não sabe dançar e só nos faria passar vergonha! E, dando-lhe as costas, partiu com suas orgulhosas filhas. Quando ficou sozinha, Cinderela foi ao túmulo da mãe e embaixo da aveleira disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! Então um pássaro branco jogou para ela um vestido de ouro e prata e sapatos de seda bordados também de prata. Cinderela se vestiu a toda pressa e foi para a festa. Estava tão linda, no seu vestido dourado que nem as irmãs nem a madrasta a reconheceram. Pensaram que fosse uma princesa estrangeira. Para elas Cinderela só poderia estar em casa catando lentilhas nas cinzas. Logo que a viu, o príncipe veio a seu encontro e, pegando-lhe a mão, levou-a para dançar. Só dançou com ela, sem largar de sua mão por um instante. Quando alguém a convidava para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Dançaram até altas horas da noite e até que Cinderela quis voltar para casa. - Eu a acompanho, disse o príncipe. Na verdade ele queria saber a que família ela pertencia, mas Cinderela conseguiu escapar dele, correu para casa e se escondeu no pombal. O príncipe esperou o pai dela e contou-lhe que a jovem desconhecida tinha saltado para dentro do pombal. “Deve ser Cinderela…”, pensou o pai. E mandou vir um machado para arrombar a porta do pombal, mas não havia ninguém lá dentro. Quando chegaram a casa encontraram Cinderela com suas roupas sujas, dormindo nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina. A verdade é que, assim que entrou no pombal, a menina saiu pelo lado de trás e correu para a aveleira. Ali, rapidamente tirou seu belo vestido e deixou-o sobre o túmulo. Veio o passarinho, apanhou o vestido e levou-o. Ela vestiu novamente seu vestidinho velho e sujo, correu para casa e se deitou nas cinzas da cozinha. No dia seguinte, o segundo dia da festa, quando os pais e as irmãs partiram para o castelo, Cinderela foi até a aveleira e disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou para ela um vestido ainda mais bonito que o da véspera. Quando ela entrou no salão, assim vestida, todos ficaram pasmados com sua beleza. O príncipe, que a esperava, tomou-lhe a mão e só dançou com ela. Quando alguém convidava a jovem para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Já era noite avançada quando Cinderela quis ir embora e o príncipe seguiu-a para ver em que casa entraria. A jovem seguiu seu caminho e inesperadamente entrou no quintal atrás da casa. Ágil como um esquilo subiu pelos falhos de uma frondosa pereira carregada de frutos que havia ali. O príncipe não conseguiu descobri-la e quando viu o pai dela chegar, disse: - A moça desconhecida escondeu-se nessa pereira. “Deve ser Cinderela”, pensou o pai. Mandou buscar um machado e derrubou a pereira, mas não encontraram ninguém. Como na véspera Cinderela já estava na cozinha dormindo nas cinzas, pois havia escorregado pelo outro lado da pereira, correra para a aveleira e devolvera o lindo vestido ao pássaro. Depois, vestiu o feio vestidinho de sempre, e correu para casa. No terceiro dia, assim que os pais e as irmãs saíram para a festa Cinderela foi até o túmulo da mãe e pediu à aveleira: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou-lhe o vestido mais suntuoso e brilhante jamais visto, acompanhado de um par de sapatinhos de cristal. Ela estava tão linda, tão linda que quando chegou ao castelo todos emudeceram de assombro. O príncipe só dançou com ela e como das outras vezes dizia a todos que vinham tirá-la para dançar: - Ela é minha dama. Já era noite alta quando Cinderela quis voltar para casa. O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão depressa que ele não pode alcançá-la. Dessa vez, porém, o príncipe usou um estratagema: untou com piche um degrau da escada e quando a moça passou o sapato do pé esquerdo ficou grudado. Ela deixou-o ali e continuou correndo. O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e todo de cristal. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e disse: - Só me casarei com a dona do pé que couber neste sapato. As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos. Quando o príncipe chegou à casa delas a mais velha foi para o quarto acompanhada da mãe e experimentou o sapato, mas por mais que se esforçasse não conseguia meter dentro dele o dedo grande do pé. Então a mãe deu-lhe uma faca, dizendo: - Corte fora o dedo. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e disfarçando a dor ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela, duas pombas pousaram na aveleira e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe virou-se, olhou o pé da moça e logo viu o sangue escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a para a casa dela. Chegando lá, ordenou à outra filha da madrasta que calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos do pé entraram facilmente, mas o calcanhar era grande demais e ficou de fora. Então, a mãe deu-lhe uma faca dizendo: - Corte fora um pedaço do calcanhar. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pela aveleira duas pombinhas pousaram num dos ramos e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe olhou o pé da moça, viu o sangue escorrendo e que a meia branca estava vermelha de sangue. Então virou seu cavalo, levou a falsa noiva de volta para casa e disse ao pai: - Esta também não é a verdadeira noiva. Vocês não têm outra filha? - Não!- respondeu o pai. A não ser a pequena Cinderela, filha de minha falecida esposa, mas é impossível que seja ela a noiva que procura. O príncipe ordenou que fosse buscá-la. - Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma afronta trazê-la a vossa presença, protestou a madrasta. Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse chamada. Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se diante do príncipe e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu. Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva. Quando ela se levantou o príncipe viu seu rosto e reconheceu logo a linda jovem com quem havia dançado. - É esta a noiva verdadeira! - exclamou feliz. A madrasta e as filhas levaram um susto e ficaram brancas de raiva. O príncipe ergueu Cinderela, colocou-a na garupa do seu cavalo e partiram. Quando passaram pela aveleira, as duas pombinhas brancas cantaram: - Olhe pare trás! Olhe pare trás, não há sangue no sapato que serviu bem demais! Essa é a noiva certa. Pode ir em paz! E quando acabaram de cantar elas voaram e pousaram, uma no ombro direito de Cinderela a outra no esquerdo, ali ficando. Quando o casamento de Cinderela com o príncipe se realizou, as falsas irmãs foram à festa. A mais velha ficou à direita do altar, e a mais nova, à esquerda. Subitamente, sem que ninguém pudesse impedir a pomba pousada no ombro direito da noiva voou para cima da irmã mais velha e furou-lhe os olhos. A pomba do ombro esquerdo fez o mesmo com a mais nova, e ambas ficaram cegas para o resto de suas vidas. Irmãos Grimm Outros contos dos Irmãos Grimm Rapunzel Chapeuzinho Vermelho O Rei Sapo Os Músicos de Bremem Branca de Neve e os Sete Anões
Há muito tempo, aconteceu que a esposa de um rico comerciante adoeceu gravemente e sentindo seu fim se aproximar chamou sua única filha e disse: - Querida filha, continue piedosa e boa menina que Deus a protegerá sempre. Lá do céu olharei por você e estarei sempre a seu lado. Mal acabou de dizer isso, fechou os olhos e morreu. A jovem ia todos os dias no túmulo da mãe, sempre chorando muito. Veio o inverno, e a neve cobriu o túmulo com seu alvo manto. Chegou a primavera e o sol derreteu a neve. Foi então que o viúvo resolveu se casar outra vez. A nova esposa trouxe suas duas filhas, ambas bonitas, mas só exteriormente. As duas tinham a alma feia e cruel. A partir desse momento dias difíceis começaram para a pobre enteada. - Essa imbecil não vai ficar no quarto conosco! - Reclamaram as moças. O lugar dela é na cozinha! Se quiser comer pão, que trabalhe! Tiraram-lhe o vestido bonito que ela usava, obrigaram-na a vestir outro, velho e desbotado e a calçar tamancos. - Vejam só como está toda enfeitada a orgulhosa princesinha de antes! - disseram a rir levando-a para a cozinha. A partir de então, ela foi obrigada a trabalhar, da manhã à noite, nos serviços mais pesados. Tinha que se levantar de madrugada para ir buscar água e acender o fogo. Só ela cozinhava e lavava os pratos para todos. Como se tudo isso não bastasse, as irmãs caçoavam dela e a humilhavam. Espalhavam lentilhas e feijões nas cinzas do fogão e obrigavam-na a catar um a um. À noite, exausta de tanto trabalhar, a jovem não tinha onde dormir e era obrigada a se deitar nas cinzas do fogão. E como andasse sempre suja e cheia de cinza só a chamavam de Cinderela. Uma vez, o pai resolveu ir a uma feira. Antes de sair, perguntou às enteadas o que desejavam que ele trouxesse. - Vestidos bonitos, disse uma. - Pérolas e pedras preciosas, disse a outra. - E você, Cinderela, o que vai querer? - perguntou o pai. - No caminho de volta, pai, quebre o primeiro ramo que bater no seu chapéu e traga-o para mim. Ele partiu para a feira, comprou vestidos bonitos para uma das enteadas, pérolas e pedras preciosas para a outra e, de volta para casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de aveleira bateu no seu chapéu. Ele quebrou o ramo e levou-o. Chegando em casa, deu às enteadas o que haviam pedido e à Cinderela, o ramo de aveleira. Ela agradeceu, levou o ramo para o túmulo da mãe, plantou-o ali, e chorou tanto que suas lágrimas regaram o ramo. Ele cresceu e se tornou uma aveleira linda. Três vezes, todos os dias, a menina ia chorar e rezar embaixo dela. Sempre que a via chegar, um passarinho branco voava para a árvore e, se a ouvia pedir baixinho alguma coisa, jogava-lhe o que ela havia pedido. Um dia, o rei mandou anunciar uma festa, que duraria três dias. Todas as jovens bonitas do reino seriam convidadas, pois o filho dele queria escolher entre elas aquela que seria sua futura esposa. e quando souberam que também deveriam comparecer, as duas filhas da madrasta ficaram contentíssimas. - Cinderela! Venha pentear nosso cabelo, escovar nossos sapatos e nos ajudar a vestir, pois vamos a uma festa no castelo do rei! Cinderela obedeceu chorando, porque ela também queria ir ao baile. Perguntou à madrasta se poderia ir, e esta respondeu: - Você Cinderela! Suja e cheia de pó está querendo ir à festa? Como vai dançar se não tem roupa nem sapatos? Mas Cinderela insistiu tanto que afinal ela disse: - Está bem. Eu despejei nas cinzas do fogão um tacho cheio de lentilhas. Se você conseguir catá-las todas em duas horas, poderá ir. A jovem saiu pela porta dos fundos, correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir, vieram ás rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. As outras avezinhas faziam o mesmo. Não levou nem uma hora, o tacho ficou cheio e as aves todas voaram para fora. Cheia de alegria, a menina pegou o tacho e levou para a madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Porém a madrasta disse: - Não, Cinderela. Você não tem roupa e não sabe dançar. Só serviria de caçoada para os outros. Como a menina começou a chorar, ela propôs: - Se você conseguir catar dois tachos de lentilhas nas cinzas em uma hora poderá ir conosco, enquanto pensava consigo mesma: “Isso ela não vai conseguir”. Assim que a madrasta acabou de espalhar os grãos nas cinzas, Cinderela correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! E entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir vieram as rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. Os outros pássaros faziam o mesmo. Não passou nem meia hora, e os dois tachos ficaram cheios. As aves se foram voando pela janela. Então, a menina levou os dois tachos para a madrasta, certa de que, desta vez, poderia ir à festa, porém, a madrasta disse: - Não adianta Cinderela! Você não vai ao baile! Não tem vestido, não sabe dançar e só nos faria passar vergonha! E, dando-lhe as costas, partiu com suas orgulhosas filhas. Quando ficou sozinha, Cinderela foi ao túmulo da mãe e embaixo da aveleira disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! Então um pássaro branco jogou para ela um vestido de ouro e prata e sapatos de seda bordados também de prata. Cinderela se vestiu a toda pressa e foi para a festa. Estava tão linda, no seu vestido dourado que nem as irmãs nem a madrasta a reconheceram. Pensaram que fosse uma princesa estrangeira. Para elas Cinderela só poderia estar em casa catando lentilhas nas cinzas. Logo que a viu, o príncipe veio a seu encontro e, pegando-lhe a mão, levou-a para dançar. Só dançou com ela, sem largar de sua mão por um instante. Quando alguém a convidava para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Dançaram até altas horas da noite e até que Cinderela quis voltar para casa. - Eu a acompanho, disse o príncipe. Na verdade ele queria saber a que família ela pertencia, mas Cinderela conseguiu escapar dele, correu para casa e se escondeu no pombal. O príncipe esperou o pai dela e contou-lhe que a jovem desconhecida tinha saltado para dentro do pombal. “Deve ser Cinderela…”, pensou o pai. E mandou vir um machado para arrombar a porta do pombal, mas não havia ninguém lá dentro. Quando chegaram a casa encontraram Cinderela com suas roupas sujas, dormindo nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina. A verdade é que, assim que entrou no pombal, a menina saiu pelo lado de trás e correu para a aveleira. Ali, rapidamente tirou seu belo vestido e deixou-o sobre o túmulo. Veio o passarinho, apanhou o vestido e levou-o. Ela vestiu novamente seu vestidinho velho e sujo, correu para casa e se deitou nas cinzas da cozinha. No dia seguinte, o segundo dia da festa, quando os pais e as irmãs partiram para o castelo, Cinderela foi até a aveleira e disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou para ela um vestido ainda mais bonito que o da véspera. Quando ela entrou no salão, assim vestida, todos ficaram pasmados com sua beleza. O príncipe, que a esperava, tomou-lhe a mão e só dançou com ela. Quando alguém convidava a jovem para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Já era noite avançada quando Cinderela quis ir embora e o príncipe seguiu-a para ver em que casa entraria. A jovem seguiu seu caminho e inesperadamente entrou no quintal atrás da casa. Ágil como um esquilo subiu pelos falhos de uma frondosa pereira carregada de frutos que havia ali. O príncipe não conseguiu descobri-la e quando viu o pai dela chegar, disse: - A moça desconhecida escondeu-se nessa pereira. “Deve ser Cinderela”, pensou o pai. Mandou buscar um machado e derrubou a pereira, mas não encontraram ninguém. Como na véspera Cinderela já estava na cozinha dormindo nas cinzas, pois havia escorregado pelo outro lado da pereira, correra para a aveleira e devolvera o lindo vestido ao pássaro. Depois, vestiu o feio vestidinho de sempre, e correu para casa. No terceiro dia, assim que os pais e as irmãs saíram para a festa Cinderela foi até o túmulo da mãe e pediu à aveleira: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou-lhe o vestido mais suntuoso e brilhante jamais visto, acompanhado de um par de sapatinhos de cristal. Ela estava tão linda, tão linda que quando chegou ao castelo todos emudeceram de assombro. O príncipe só dançou com ela e como das outras vezes dizia a todos que vinham tirá-la para dançar: - Ela é minha dama. Já era noite alta quando Cinderela quis voltar para casa. O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão depressa que ele não pode alcançá-la. Dessa vez, porém, o príncipe usou um estratagema: untou com piche um degrau da escada e quando a moça passou o sapato do pé esquerdo ficou grudado. Ela deixou-o ali e continuou correndo. O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e todo de cristal. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e disse: - Só me casarei com a dona do pé que couber neste sapato. As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos. Quando o príncipe chegou à casa delas a mais velha foi para o quarto acompanhada da mãe e experimentou o sapato, mas por mais que se esforçasse não conseguia meter dentro dele o dedo grande do pé. Então a mãe deu-lhe uma faca, dizendo: - Corte fora o dedo. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e disfarçando a dor ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela, duas pombas pousaram na aveleira e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe virou-se, olhou o pé da moça e logo viu o sangue escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a para a casa dela. Chegando lá, ordenou à outra filha da madrasta que calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos do pé entraram facilmente, mas o calcanhar era grande demais e ficou de fora. Então, a mãe deu-lhe uma faca dizendo: - Corte fora um pedaço do calcanhar. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pela aveleira duas pombinhas pousaram num dos ramos e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe olhou o pé da moça, viu o sangue escorrendo e que a meia branca estava vermelha de sangue. Então virou seu cavalo, levou a falsa noiva de volta para casa e disse ao pai: - Esta também não é a verdadeira noiva. Vocês não têm outra filha? - Não!- respondeu o pai. A não ser a pequena Cinderela, filha de minha falecida esposa, mas é impossível que seja ela a noiva que procura. O príncipe ordenou que fosse buscá-la. - Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma afronta trazê-la a vossa presença, protestou a madrasta. Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse chamada. Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se diante do príncipe e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu. Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva. Quando ela se levantou o príncipe viu seu rosto e reconheceu logo a linda jovem com quem havia dançado. - É esta a noiva verdadeira! - exclamou feliz. A madrasta e as filhas levaram um susto e ficaram brancas de raiva. O príncipe ergueu Cinderela, colocou-a na garupa do seu cavalo e partiram. Quando passaram pela aveleira, as duas pombinhas brancas cantaram: - Olhe pare trás! Olhe pare trás, não há sangue no sapato que serviu bem demais! Essa é a noiva certa. Pode ir em paz! E quando acabaram de cantar elas voaram e pousaram, uma no ombro direito de Cinderela a outra no esquerdo, ali ficando. Quando o casamento de Cinderela com o príncipe se realizou, as falsas irmãs foram à festa. A mais velha ficou à direita do altar, e a mais nova, à esquerda. Subitamente, sem que ninguém pudesse impedir a pomba pousada no ombro direito da noiva voou para cima da irmã mais velha e furou-lhe os olhos. A pomba do ombro esquerdo fez o mesmo com a mais nova, e ambas ficaram cegas para o resto de suas vidas. Irmãos Grimm Outros contos dos Irmãos Grimm Rapunzel Chapeuzinho Vermelho O Rei Sapo Os Músicos de Bremem Branca de Neve e os Sete Anões
Há muito tempo, aconteceu que a esposa de um rico comerciante adoeceu gravemente e sentindo seu fim se aproximar chamou sua única filha e disse: - Querida filha, continue piedosa e boa menina que Deus a protegerá sempre. Lá do céu olharei por você e estarei sempre a seu lado. Mal acabou de dizer isso, fechou os olhos e morreu. A jovem ia todos os dias no túmulo da mãe, sempre chorando muito. Veio o inverno, e a neve cobriu o túmulo com seu alvo manto. Chegou a primavera e o sol derreteu a neve. Foi então que o viúvo resolveu se casar outra vez. A nova esposa trouxe suas duas filhas, ambas bonitas, mas só exteriormente. As duas tinham a alma feia e cruel. A partir desse momento dias difíceis começaram para a pobre enteada. - Essa imbecil não vai ficar no quarto conosco! - Reclamaram as moças. O lugar dela é na cozinha! Se quiser comer pão, que trabalhe! Tiraram-lhe o vestido bonito que ela usava, obrigaram-na a vestir outro, velho e desbotado e a calçar tamancos. - Vejam só como está toda enfeitada a orgulhosa princesinha de antes! - disseram a rir levando-a para a cozinha. A partir de então, ela foi obrigada a trabalhar, da manhã à noite, nos serviços mais pesados. Tinha que se levantar de madrugada para ir buscar água e acender o fogo. Só ela cozinhava e lavava os pratos para todos. Como se tudo isso não bastasse, as irmãs caçoavam dela e a humilhavam. Espalhavam lentilhas e feijões nas cinzas do fogão e obrigavam-na a catar um a um. À noite, exausta de tanto trabalhar, a jovem não tinha onde dormir e era obrigada a se deitar nas cinzas do fogão. E como andasse sempre suja e cheia de cinza só a chamavam de Cinderela. Uma vez, o pai resolveu ir a uma feira. Antes de sair, perguntou às enteadas o que desejavam que ele trouxesse. - Vestidos bonitos, disse uma. - Pérolas e pedras preciosas, disse a outra. - E você, Cinderela, o que vai querer? - perguntou o pai. - No caminho de volta, pai, quebre o primeiro ramo que bater no seu chapéu e traga-o para mim. Ele partiu para a feira, comprou vestidos bonitos para uma das enteadas, pérolas e pedras preciosas para a outra e, de volta para casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de aveleira bateu no seu chapéu. Ele quebrou o ramo e levou-o. Chegando em casa, deu às enteadas o que haviam pedido e à Cinderela, o ramo de aveleira. Ela agradeceu, levou o ramo para o túmulo da mãe, plantou-o ali, e chorou tanto que suas lágrimas regaram o ramo. Ele cresceu e se tornou uma aveleira linda. Três vezes, todos os dias, a menina ia chorar e rezar embaixo dela. Sempre que a via chegar, um passarinho branco voava para a árvore e, se a ouvia pedir baixinho alguma coisa, jogava-lhe o que ela havia pedido. Um dia, o rei mandou anunciar uma festa, que duraria três dias. Todas as jovens bonitas do reino seriam convidadas, pois o filho dele queria escolher entre elas aquela que seria sua futura esposa. e quando souberam que também deveriam comparecer, as duas filhas da madrasta ficaram contentíssimas. - Cinderela! Venha pentear nosso cabelo, escovar nossos sapatos e nos ajudar a vestir, pois vamos a uma festa no castelo do rei! Cinderela obedeceu chorando, porque ela também queria ir ao baile. Perguntou à madrasta se poderia ir, e esta respondeu: - Você Cinderela! Suja e cheia de pó está querendo ir à festa? Como vai dançar se não tem roupa nem sapatos? Mas Cinderela insistiu tanto que afinal ela disse: - Está bem. Eu despejei nas cinzas do fogão um tacho cheio de lentilhas. Se você conseguir catá-las todas em duas horas, poderá ir. A jovem saiu pela porta dos fundos, correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir, vieram ás rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. As outras avezinhas faziam o mesmo. Não levou nem uma hora, o tacho ficou cheio e as aves todas voaram para fora. Cheia de alegria, a menina pegou o tacho e levou para a madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Porém a madrasta disse: - Não, Cinderela. Você não tem roupa e não sabe dançar. Só serviria de caçoada para os outros. Como a menina começou a chorar, ela propôs: - Se você conseguir catar dois tachos de lentilhas nas cinzas em uma hora poderá ir conosco, enquanto pensava consigo mesma: “Isso ela não vai conseguir”. Assim que a madrasta acabou de espalhar os grãos nas cinzas, Cinderela correu para o quintal e chamou: - Mansas pombinhas e rolinhas... Passarinhos do céu inteiro, venha me ajudar a catar lentilhas! As boas vão para o tacho, as ruins para o seu papo! E entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir vieram as rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. Os outros pássaros faziam o mesmo. Não passou nem meia hora, e os dois tachos ficaram cheios. As aves se foram voando pela janela. Então, a menina levou os dois tachos para a madrasta, certa de que, desta vez, poderia ir à festa, porém, a madrasta disse: - Não adianta Cinderela! Você não vai ao baile! Não tem vestido, não sabe dançar e só nos faria passar vergonha! E, dando-lhe as costas, partiu com suas orgulhosas filhas. Quando ficou sozinha, Cinderela foi ao túmulo da mãe e embaixo da aveleira disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! Então um pássaro branco jogou para ela um vestido de ouro e prata e sapatos de seda bordados também de prata. Cinderela se vestiu a toda pressa e foi para a festa. Estava tão linda, no seu vestido dourado que nem as irmãs nem a madrasta a reconheceram. Pensaram que fosse uma princesa estrangeira. Para elas Cinderela só poderia estar em casa catando lentilhas nas cinzas. Logo que a viu, o príncipe veio a seu encontro e, pegando-lhe a mão, levou-a para dançar. Só dançou com ela, sem largar de sua mão por um instante. Quando alguém a convidava para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Dançaram até altas horas da noite e até que Cinderela quis voltar para casa. - Eu a acompanho, disse o príncipe. Na verdade ele queria saber a que família ela pertencia, mas Cinderela conseguiu escapar dele, correu para casa e se escondeu no pombal. O príncipe esperou o pai dela e contou-lhe que a jovem desconhecida tinha saltado para dentro do pombal. “Deve ser Cinderela…”, pensou o pai. E mandou vir um machado para arrombar a porta do pombal, mas não havia ninguém lá dentro. Quando chegaram a casa encontraram Cinderela com suas roupas sujas, dormindo nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina. A verdade é que, assim que entrou no pombal, a menina saiu pelo lado de trás e correu para a aveleira. Ali, rapidamente tirou seu belo vestido e deixou-o sobre o túmulo. Veio o passarinho, apanhou o vestido e levou-o. Ela vestiu novamente seu vestidinho velho e sujo, correu para casa e se deitou nas cinzas da cozinha. No dia seguinte, o segundo dia da festa, quando os pais e as irmãs partiram para o castelo, Cinderela foi até a aveleira e disse: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou para ela um vestido ainda mais bonito que o da véspera. Quando ela entrou no salão, assim vestida, todos ficaram pasmados com sua beleza. O príncipe, que a esperava, tomou-lhe a mão e só dançou com ela. Quando alguém convidava a jovem para dançar, ele dizia: - Ela é minha dama. Já era noite avançada quando Cinderela quis ir embora e o príncipe seguiu-a para ver em que casa entraria. A jovem seguiu seu caminho e inesperadamente entrou no quintal atrás da casa. Ágil como um esquilo subiu pelos falhos de uma frondosa pereira carregada de frutos que havia ali. O príncipe não conseguiu descobri-la e quando viu o pai dela chegar, disse: - A moça desconhecida escondeu-se nessa pereira. “Deve ser Cinderela”, pensou o pai. Mandou buscar um machado e derrubou a pereira, mas não encontraram ninguém. Como na véspera Cinderela já estava na cozinha dormindo nas cinzas, pois havia escorregado pelo outro lado da pereira, correra para a aveleira e devolvera o lindo vestido ao pássaro. Depois, vestiu o feio vestidinho de sempre, e correu para casa. No terceiro dia, assim que os pais e as irmãs saíram para a festa Cinderela foi até o túmulo da mãe e pediu à aveleira: - Balance e se agite árvore adorada, cubra-me toda de ouro e prata! E o pássaro atirou-lhe o vestido mais suntuoso e brilhante jamais visto, acompanhado de um par de sapatinhos de cristal. Ela estava tão linda, tão linda que quando chegou ao castelo todos emudeceram de assombro. O príncipe só dançou com ela e como das outras vezes dizia a todos que vinham tirá-la para dançar: - Ela é minha dama. Já era noite alta quando Cinderela quis voltar para casa. O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão depressa que ele não pode alcançá-la. Dessa vez, porém, o príncipe usou um estratagema: untou com piche um degrau da escada e quando a moça passou o sapato do pé esquerdo ficou grudado. Ela deixou-o ali e continuou correndo. O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e todo de cristal. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e disse: - Só me casarei com a dona do pé que couber neste sapato. As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos. Quando o príncipe chegou à casa delas a mais velha foi para o quarto acompanhada da mãe e experimentou o sapato, mas por mais que se esforçasse não conseguia meter dentro dele o dedo grande do pé. Então a mãe deu-lhe uma faca, dizendo: - Corte fora o dedo. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e disfarçando a dor ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela, duas pombas pousaram na aveleira e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe virou-se, olhou o pé da moça e logo viu o sangue escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a para a casa dela. Chegando lá, ordenou à outra filha da madrasta que calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos do pé entraram facilmente, mas o calcanhar era grande demais e ficou de fora. Então, a mãe deu-lhe uma faca dizendo: - Corte fora um pedaço do calcanhar. Quando você for rainha, vai andar muito pouco a pé. Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pela aveleira duas pombinhas pousaram num dos ramos e cantaram: - Olhe para trás! Olhe para trás! Há sangue no sapato que é pequeno demais! Não é a noiva certa que vai sentada atrás! O príncipe olhou o pé da moça, viu o sangue escorrendo e que a meia branca estava vermelha de sangue. Então virou seu cavalo, levou a falsa noiva de volta para casa e disse ao pai: - Esta também não é a verdadeira noiva. Vocês não têm outra filha? - Não!- respondeu o pai. A não ser a pequena Cinderela, filha de minha falecida esposa, mas é impossível que seja ela a noiva que procura. O príncipe ordenou que fosse buscá-la. - Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma afronta trazê-la a vossa presença, protestou a madrasta. Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse chamada. Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se diante do príncipe e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu. Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva. Quando ela se levantou o príncipe viu seu rosto e reconheceu logo a linda jovem com quem havia dançado. - É esta a noiva verdadeira! - exclamou feliz. A madrasta e as filhas levaram um susto e ficaram brancas de raiva. O príncipe ergueu Cinderela, colocou-a na garupa do seu cavalo e partiram. Quando passaram pela aveleira, as duas pombinhas brancas cantaram: - Olhe pare trás! Olhe pare trás, não há sangue no sapato que serviu bem demais! Essa é a noiva certa. Pode ir em paz! E quando acabaram de cantar elas voaram e pousaram, uma no ombro direito de Cinderela a outra no esquerdo, ali ficando. Quando o casamento de Cinderela com o príncipe se realizou, as falsas irmãs foram à festa. A mais velha ficou à direita do altar, e a mais nova, à esquerda. Subitamente, sem que ninguém pudesse impedir a pomba pousada no ombro direito da noiva voou para cima da irmã mais velha e furou-lhe os olhos. A pomba do ombro esquerdo fez o mesmo com a mais nova, e ambas ficaram cegas para o resto de suas vidas.
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