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Infantil-->As Fadas (Charles Perrault) -- 29/04/2005 - 21:44 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




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As Fadas

(Charles Perrault)




Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha se parecia tanto com ela, no humor e de rosto, que quem a via enxergava a própria mãe. Mãe e filha eram tão desagradáveis e orgulhosas que ninguém as suportava. A filha mais nova, que era o retrato do pai, pela doçura e pela educação, era ainda por cima a mais linda moça que já se viu.
Como queremos bem, naturalmente, a quem se parece conosco, essa mãe era louca pela filha mais velha e tinha, ao mesmo tempo, uma tremenda antipatia pela mais nova que comia na cozinha e trabalhava sem parar como se fosse uma criada. Tinha a pobrezinha, entre outras coisas, de ir duas vezes por dia buscar água a meia légua de casa, com uma enorme moringa que voltava cheia e pesada.
Um dia, nessa fonte, lhe apareceu uma pobre velhinha, pedindo água:

- Pois não, boa senhora - disse a linda moça.

E, enxaguando a moringa, tirou água da mais bela parte da fonte, dando-lhe de beber com as próprias mãos para auxiliá-la. A boa velhinha bebeu e disse:

- Você é tão bonita, tão boa, tão educada que não posso deixar de lhe dar um dom.

Na verdade, essa mulher era uma fada, que tinha tomado a forma de uma pobre camponesa para ver até onde ia á educação daquela jovem.

- A cada palavra que falar - continuou a fada - de sua boca sairá uma flor ou uma pedra preciosa.

Quando a linda moça chegou a casa, a mãe reclamou da demora.

- Peço-lhe perdão, minha mãe - disse a pobrezinha - por ter demorado tanto.

E, dizendo essas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois enormes diamantes.

- O que é isso? - disse a mãe espantada - acho que estou vendo pérolas e diamantes saindo da sua boca. De onde é que vem isso filha? Era a primeira vez que a chamava de filha.

A pobre menina contou-lhe honestamente tudo o que tinha acontecido, não sem pôr para fora uma infinidade de diamantes.

- Nossa! - disse a mãe - tenho de mandar minha filha até a fonte.

- Filha, venha cá, venha ver o que está saindo da boca de sua irmã quando ela fala; quer ter o mesmo dom? Pois basta ir à fonte, e, quando uma pobre mulher lhe pedir água, atenda-a educadamente.

- Só me faltava essa! - respondeu á mal-educada - Ter de ir até a fonte!

- Estou mandando que você vá - retrucou a mãe - e já.

Ela foi, mas reclamando. Levou o mais bonito jarro de prata da casa. Mal chegou à fonte, viu sair do bosque uma dama magnificamente vestida, que veio lhe pedir água. Era a mesma fada que tinha aparecido para a irmã, mas que surgia agora disfarçada de princesa, para ver até onde ia á educação daquela moça.

- Será que foi para lhe dar de beber que eu vim aqui? - disse a grosseira e orgulhosa. Se foi, tenho até um jarro de prata para a madame! Tome, beba no jarro, se quiser.

- Você é muito mal-educada - disse a fada, sem ficar brava.

- Pois muito bem! Já que é tão pouco cortês, seu dom será o de soltar pela boca, a cada palavra que disser, uma cobra ou um sapo.

Quando a mãe a viu chegar, logo lhe disse:

- E então, filha?

- Então, mãe! - respondeu á mal-educada, soltando pela boca duas cobras e dois sapos.

- Meu Deus! - gritou a mãe -, o que é isso? A culpa é da sua irmã, ela me paga.

E imediatamente ela foi atrás da mais nova para espancá-la. A pobrezinha fugiu e foi se esconder na floresta mais próxima. O filho do rei, que estava voltando da caça, encontrou-a e, vendo como era linda, perguntou-lhe o que fazia ali tão sozinha e por que estava chorando.

- Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa.

O filho do rei, vendo sair de sua boca cinco ou seis pérolas e outros tantos diamantes, pediu-lhe que lhe dissesse de onde vinha aquilo. Ela lhe contou toda a sua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela e considerando que tal dom valia mais do que qualquer dote, levou-a ao palácio do rei, seu pai, onde se casou com ela. Quanto à irmã, a mãe ficou tão irada contra ela que a expulsou de casa e a infeliz, depois de muito andar sem encontrar ninguém que a abrigasse, acabou morrendo num canto do bosque.




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