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Infantil-->A Polegarzinha (Hans Christian Andersen) -- 15/04/2006 - 22:06 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos














Criança é Poesia





Eu quero ter asas para voar, ser livre e brincar no ar. A alegria de voar e subir ao céu, e de ver rodopiar no ar um chapéu. O vento a bater-me no peito. Voar, é de veras um grande feito! As aves têm alegria e eu fantasio...


CARLOS CUNHA







A polegarzinha

(Hans Christian Andersen)


Era uma vez uma mulher que queria ter um filho bem pequenininho, mas não sabia como havia de fazer para encontrar um. Então foi falar com uma velha bruxa e lhe disse:

— Gostaria tanto de ter um filho pequenino! Não sabes dizer-me onde posso arranjar um?

— Oh, isso não é difícil, disse a bruxa. Vou te dar um grão de cevada, só que este não é daquela que cresce nos campos dos lavradores nem das que as galinhas comem. Planta este grão num vaso e verás o que acontece!

— Obrigada, disse a mulher dando uma moeda de prata à bruxa e depois foi para casa plantar o grão.

Não foi preciso esperar muito tempo para que nascesse uma bela flor parecida com uma tulipa, mas que tinha as pétalas muito fechadas como se fosse ainda um botão.

— Que linda flor, disse a mulher dando um beijo nas pétalas amarelas.

Nesse momento a flor abriu-se com um forte estalido. Era realmente uma tulipa, agora ela via bem, mas ficou admirada e assustada quando percebeu que no centro dela estava sentada uma menina minúscula, graciosa e delicada como uma fada. Não era maior que um dedo polegar, e por isso ela a chamou de Polegarzinha.
A cama em que a menininha dormia era uma casca de noz muito bem polida que tinha um colchão de pétalas de violeta azuis e o seu cobertor era uma pétala de rosa. Dormia ali à noite, mas durante o dia brincava em cima da mesa, onde a mulher tinha posto um prato de sopa cheio de água com um círculo de flores à volta e os caules virados para o meio. Dentro do prato, a flutuar, estava uma grande pétala de flor em que a Polegarzinha podia se sentar e remar de um lado para o outro, usando dois pêlos brancos de cavalo como remos. Era lindo de se ver!
Ela também sabia cantar e tinha a vozinha mais frágil e mais doce que jamais se ouviu.



Uma noite, quando a polegarzinha estava deitada na sua linda caminha, um sapo entrou no quarto através de um vidro partido da janela. Ele era muito grande e estava todo molhado, quando saltou para cima da mesa onde a menininha dormia profundamente debaixo da sua pétala de rosa.

— Ora aqui está uma bela esposa para o meu filho! — disse o sapo em seu feio coaxar quando a viu.

Ele pegou a cama de casca de noz, em que a Polegarzinha estava dormindo, e saltou com ela através da janela para o jardim, atravessou ele todinho e chegou a um largo regato, de margens pantanosas e lamacentas. Era lá que o sapo vivia com o seu filho.
Este também não era nada bonito, na realidade era igualzinho ao pai e coaxou feliz quando viu a linda menininha deitada na casca de noz:

— Croc! Croc! Croc!

— Não fale tão alto se não ela acorda, o sapo pai disse para o sapinho. Ela pode fugir porque é leve como uma pena de cisne.

Para evitar que ela fugisse, eles a levaram a uma enorme folha de nenúfar no meio do rio, assim ela ia pensar que estava numa ilha, porque era uma criaturinha minúscula.
A pobre menina acordou e quando viu onde estava começou a chorar amargamente, porque havia água a toda a volta da grande folha e era impossível voltar para terra. Enquanto isso o velho sapo andava metido na lama, decorando atarefadamente o quarto com juncos e flores aquáticas amarelas para ficar bonito e alegre para a sua futura nora.
Quando terminou, acompanhado pelo filho, nadou até à folha onde estava a Polegarzinha e foi buscar a linda cama de casca de noz para a colocarem no quarto antes da noivinha ir para lá.
O velho sapo, ainda dentro de água, fez uma profunda vênia e disse à Polegarzinha:

— Este é o meu filho. Vai ser o teu marido e vocês os dois vão viver muito felizes numa bela casa debaixo da lama.

— Croc! Croc! - foi tudo o que o sapinho filho disse.

Eles pegaram na caminha e se foram a nadar com ela, enquanto a Polegarzinha ficava sozinha na folha verde a chorar. Ela não queria viver com o velho sapo nem casar com o filho dele.
Os peixinhos que nadavam por baixo da folha ouviram o que o sapo disse. Depois que ele se foi, colocaram as cabeças pra fora da água para verem a menina e assim que viram o como ela era bonita ficaram com pena por ela ter de ir viver na lama com o sapo.
“Não, isso não podia acontecer”! Juntaram-se em redor do pé verde da folha em que ela estava e puseram-se a roer a raiz sem parar.
A folha ficou leve e saiu flutuando pelo regato, levando a Polegarzinha para longe, cada vez para mais longe, para onde o sapo não podia ir.
Quando ela passava, os passarinhos nas árvores cantavam:

- "Que linda criaturinha!"

A folha foi deslizando, cada vez para mais longe, e foi assim que a Polegarzinha chegou a outro país.
Quando chegou lá uma linda borboleta branca esvoaçou por cima dela e acabou por pousar na folha, porque tinha começado a gostar da menina. Como ela estava feliz agora! O sapo já não podia apanhá-la e era tudo maravilhoso à sua volta. A água, em sua volta, parecia ouro a cintilar por causa do sol que brilhava sobre ela.
A Polegarzinha tirou o cinto pequenino que usava, deu uma ponta à borboleta amiga e atou a outra à folha. Agora é que ia mesmo depressa!
Nesse momento, um grande escaravelho passou voando por cima dela e assim que viu a menininha, agarrou-a pela cintura e voou com ela para cima de uma árvore enorme. A folha verde continuou a flutuar rio abaixo com a borboleta.
A Polegarzinha ficou assustada quando o escaravelho a levou para cima da árvore e teve pena da sua amiga, a borboleta branca!
Mas o escaravelho não queria saber disso. Pousou na maior folha verde da árvore e largou-a lá. Deu-lhe pólen para comer e disse-lhe que ela era muito bonita, embora não tanto como um escaravelho.
Em breve todos os outros escaravelhos que viviam na árvore foram visitá-la. Olhavam para ela e as jovens “escaravelhas” encolhiam as antenas, dizendo:

- "Mas ela só tem duas pernas! Não tem antenas! Tem uma cintura tão fina! Que feia que é!", apesar da Polegarzinha ser uma criatura linda e delicada.

O escaravelho a tinha levado porque a tinha achado linda, mas quando todas as “escaravelhas’ começaram a dizer que ela era horrível ele começou a pensar o mesmo e acabou por não querer saber dela. Ela podia ir para onde quisesse.
Várias ‘escaravelhas’ pegaram nela e voaram até ao solo, deixando-a em cima de uma margarida. Lá ela ficou a chorar, por se sentir tão feia que os escaravelhos não a queriam, no entanto era a criaturinha mais bonita que se podia imaginar. Mais bela que a mais perfeita pétala de rosa.
Durante todo o Verão a pobre Polegarzinha viveu completamente sozinha na grande floresta. Teceu uma cama com ervas e pendurou-a como se fosse uma rede por baixo de uma grande folha de azeda, para ficar abrigada da chuva. Para comer apanhava mel e pólen das flores e bebia as gotas de orvalho, que encontrava todas as manhãs nas folhas.
E assim passou o Verão e o Outono, mas depois chegou o Inverno, o longo e frio Inverno.
Os passarinhos, que tão docemente tinham cantado voavam agora para longe, as árvores perdiam as folhas, as flores murchavam. Depois, a grande folha de azeda que lhe fazia de telhado começou a enrolar-se e murchou, até que ficou apenas uma haste seca e amarela.
A Polegarzinha tinha imenso frio porque o seu vestido estava todo roto e ela era muito frágil e pequenina. Em breve morreria de frio.
Embrulhou-se numa folha murcha, mas não conseguiu aquecer-se e tremia cada vez mais.



Finalmente chegou à porta da toca de um rato do campo, que vivia por baixo do restolho. Era aconchegada e confortável, com um armazém cheio de trigo, uma cozinha quente e uma sala de jantar.
A pobre Polegarzinha parou à porta da toca do rato, como se fosse uma mendiga, e pediu pra ele lhe dar um bocadinho de um grão, porque tinha muita fome e já fazia dias que não comia nada.

— Pobrezinha! — disse o rato do campo que tinha muito bom coração. Vem para a cozinha que está quente e come comigo.

O rato gostou tanto da companhia da Polegarzinha que acabou por lhe dizer:

— Você pode ficar comigo durante o Inverno, mas tem de limpar e arrumar a casa e contar-me histórias. Gosto muito de histórias.

A Polegarzinha fez o que o velho rato do campo lhe disse e o tempo foi passando agradavelmente.

— Em breve teremos a visita de um amigo que tem uma casa muito melhor que a minha, disse o rato do campo uma certa vez. Ela tem grandes e belos quartos e ele usa um lindo casaco de veludo preto! Se conseguir que ele se case contigo nunca mais te faltará nada. Mas ele é quase cego, de maneira que tens de te preparar para lhe contar as melhores histórias que souberes.

A Polegarzinha não gostou muito da idéia. Não se interessou em casar com o vizinho rico, que era uma toupeira macho e vinha fazer a sua visita com o casaco de veludo preto.
O rato do campo falou à Polegarzinha que ele era muito rico e culto; disse-lhe que a casa dele era vinte vezes maior do que a sua. Que ele sabia muitas coisas, embora não gostasse do sol e das lindas flores, porque nunca os tinha visto.
A Polegarzinha cantou para o “toupeiro”, quando ele apareceu para a visita, e ele apaixonou-se pela sua linda voz, mas não disse nada porque era muito cauteloso.
Ele tinha escavado recentemente uma passagem muito longa, que ia da sua casa à do vizinho, e disse ao rato do campo e à Polegarzinha que podiam ir visitá-lo quando quisessem, mas pediu-lhes que não tivessem medo da ave morta que estava na passagem. Contou-lhes que a ave não tinha qualquer marca nem ferida, não lhe faltavam penas, e o bico estava intacto. Que devia ter morrido há muito pouco tempo, com a chegada do inverno e de alguma maneira tinha caído na sua passagem subterrânea.
Então o “toupeiro” agarrou num pedaço de madeira podre com a boca (porque a madeira podre brilha como fogo no escuro) e foi à frente para iluminar a longa passagem para os seus convidados. Depressa chegaram ao lugar onde estava á ave, e o “toupeiro” empurrou o teto com o focinho largo, levantando a terra para fazer um buraco que deixou entrar a luz do dia.
E lá estava uma andorinha, com as lindas asas encostadas ao corpo, ás perninhas e a cabeça escondida nas penas. A pobre ave com certeza tinha morrido de frio.
A Polegarzinha teve muita pena dela, porque amava todas as avezinhas, que tinham cantado e chilreado para ela de uma maneira tão encantadora durante todo o Verão. Mas o “toupeiro” empurrou a andorinha para o lado com as suas perninhas curtas e disse:

— Esta já não assobia mais! Que pouca sorte nascer ave! Felizmente que nenhum dos meus filhos será como elas. Uma ave não sabe fazer nada a não ser cantar e depois morrer de fome no Inverno!

A Polegarzinha não disse uma palavra, mas quando o rato e ao “toupeiro” recomeçaram a andar baixou-se, afastou meigamente as penas da cabeça da andorinha e beijou-lhe os olhos fechados.

“Talvez esta seja a que cantou tão suavemente para mim durante o verão”, ela pensou. Se foi mesmo ela, que felicidade me deu esta pobre avezinha da floresta!

Então o “toupeiro” tapou o buraco que tinha feito para deixar entrar a luz do dia e acompanhou as visitas a sua casa.
Mas nessa noite a Polegarzinha não conseguia dormir, de maneira que levantou e teceu uma cobertazinha de feno. Quando acabou foi pô-la em cima da ave. Ao lado deixou um pouco de lanugem de cardo que tinha encontrado na sala de estar do rato do campo, para que a ave pudesse repousar quentinha sobre a terra fria.

— Adeus, linda andorinha! — ela disse. Adeus e obrigada pelas tuas belas canções no Verão, quando as árvores estavam verdes e o sol brilhava tão alegremente sobre nós todos!

Depois encostou a cabeça ao coração da andorinha, mas ficou logo muito espantada porque parecia que alguma coisa batia lá dentro. Era o coração da andorinha a bater. Não estava morta, apenas entorpecida pelo frio e como tinha sido aquecida começava a voltar a si.
No Outono as andorinhas voam todas para terras mais quentes, mas se uma delas se atrasa o frio pode fazê-la gelar e então ela cai no chão e depressa fica coberta de neve.
A Polegarzinha tremia assustada. A ave era muito maior do que ela, que só tinha dois centímetros e meio de altura, mas encheu-se de coragem e aconchegou a lanugem de cardo ao corpo da pobre andorinha. Depois foi correndo buscar a sua coberta, uma folha de hortelã, para lhe tapar a cabeça.
Na noite seguinte a esgueirou-se outra vez para visitar a andorinha. Ela estava realmente viva, mas tão fraca que mal pôde abrir os olhos para olhar para a menininha. Ali estava ela, com um pedacinho de madeira podre na mão, porque não tinha outra lanterna.

— Obrigada linda menina, disse a andorinha doente. Você me aqueceu tão bem que depressa estarei suficientemente forte para voar ao sol brilhante.

- Oh! - exclamou a Polegarzinha. Ainda está muito frio lá fora! Há neve e gelo por todo o lado. Fica aí na tua caminha quente que eu trato de ti.

Depois levou água numa folha e a andorinha bebeu e contou-lhe como tinha machucado uma asa numa moita e por isso não tinha conseguido voar tão depressa como as outras andorinhas quando partiram para terras mais quentes. Por fim, acabara por cair e não se lembrava de mais nada. Não fazia a menor idéia de como tinha ido parar ali.
Durante todo o Inverno a andorinha ficou na passagem subterrânea. A Polegarzinha tratou dela e tornou-se muito sua amiga, mas não disse nada ao “toupeiro” nem ao rato do campo, porque eles não gostavam de avezinhas.
Finalmente chegou a primavera e os raios de Sol começaram a atravessar a terra. A andorinha disse adeus à Polegarzinha e reabriu o buraco que o “toupeiro” tinha feito no teto da passagem. A luz do Sol encheu ambas de alegria e a andorinha pediu à Polegarzinha que fosse com ela. Disse que podia subir nas suas costas e as duas voariam para a floresta cheia de verdura, mas a Polegarzinha sabia que o velho rato do campo ficaria triste se ela se fosse embora assim sem mais nem menos.

— Não posso ir, ela disse.

— Então adeus. Adeus linda menina bondosa! — respondeu a andorinha voando em direção ao sol.

A Polegarzinha viu-a subir no céu e os seus olhos encheram-se de lágrimas, porque se tinha tornado muito amiga da pobre andorinha.
Todas as manhãs, quando o Sol se erguia, e todas as noites, quando se punha, a Polegarzunha esgueirava-se para fora da toca, quando o vento fazia ondular as espigas de trigo, e conseguia ver o céu azul. Pensava sempre como era bom e belo viver ao ar livre. Desejava imenso ver de novo a sua amiga andorinha, mas ela não voltou a aparecer. Tinha voado para o bosque verde coberto de folhas.
Quando o Outono chegou, o enxoval da Polegarzinha estava pronto.

— Casas daqui a quatro semanas, disse o rato do campo.

A Polegarzinha começou a chorar e disse que não queria casar com o “toupeiro”.

— Que disparate, respondeu o rato do campo. Arranjaste um marido esplêndido, pois nem a rainha tem um casaco de veludo preto e tão bom como o dele! Você deve agradecer a tua sorte.



E chegou o dia do casamento. O “toupeiro” já tinha ido buscar a Polegarzinha, pois ela ia viver com ele bem debaixo do solo. Nunca mais poderia apanhar a luz radiante do sol porque o toupeiro não a suportava. Cheia de tristeza, foi dizer o último adeus ao sol brilhante. Enquanto vivera com o rato do campo, sempre ele a deixava ir pelo menos até à porta.

— Adeus sol brilhante! — a Polegarzinha disse erguendo os braços em direção a ele e dando alguns passos no campo imenso, pois o trigo tinha sido ceifado e só ficara o restolho. Adeus, adeus, disse ela outra vez abraçando uma florzinha vermelha que crescia por entre os caules. Se alguma vez tornares a ver a andorinha, diz a ela que lhe mando saudades!

Nesse preciso momento ouviu um cantar conhecido e quando olhou viu que era a andorinha. Como ela estava contente por ver a sua amiga Polegarzinha! Então esta lhe contou que tinha de casar nesse mesmo dia com o “toupeiro” e de ir viver com ele debaixo da terra, onde o Sol nunca brilhava. E as lágrimas saltaram-lhe dos olhos só de pensar nisso.

— Vem aí o frio inverno novamente, disse a andorinha. Vou voar para longe, para os países quentes. Por que não vens comigo? Podes subir para as minhas costas e prender-se a mim com o teu cinto. Deixamos o “toupeiro” e a sua casa escura e voamos para muito longe, por cima das montanhas. Iremos para um país onde o Sol brilha ainda mais do que aqui, onde é sempre Verão e onde as matas e as florestas estão cobertas das mais belas flores. Ah, vem comigo querida Polegarzinha, tu que me salvaste a vida quando eu estava gelada na escura passagem debaixo da terra!

— Sim, eu vou com você, acabou por dizer a Polegarzinha.

Ela sentou-se nas costas da ave e prendeu o cinto a uma das suas penas mais fortes. Então, a andorinha ergueu-se muito alto no céu e voou por cima de florestas, lagos e montanhas onde há sempre neve. O ar gelado fazia a Polegarzinha tremer, mas ela enfiava-se debaixo das penas quentes da ave e só espreitava para olhar, assombrada com as belas coisas lá em baixo.



Por fim, chegaram aos países quentes. Lá o sol brilhava com muito mais intensidade do que a Polegarzinha supunha ser possível e o céu parecia duas vezes mais alto. Ao longo das estradas, havia deliciosas uvas, limões e laranjas pendiam das árvores, o ar era perfumado por muitas plantas aromáticas.
Pelos caminhos, corriam muitas crianças lindas a brincar por entre coloridas borboletas, mas a andorinha voou ainda para mais longe. Para onde a paisagem era também ainda mais bonita.
E então, à sombra de enormes árvores verdes, na margem de um lago azul-safira, viram um palácio muito antigo construído em mármore branco, com videiras enroladas nas suas altas colunas. No cimo das colunas havia muitos ninhos de andorinhas, e num deles vivia a amiga da Polegarzinha.

— A minha casa é esta, a andorinha disse. Se quiseres colher uma daquelas lindas flores ali em baixo eu te coloco lá e podes viver feliz à tua vontade.

— Ah, como vou gostar! — gritou a Polegarzinha batendo as mãozinhas.

Uma grande coluna branca estava caída por terra, partida em três pedaços, e entre eles cresciam altas e belas flores brancas. A andorinha voou até lá abaixo com a Polegarzinha e colocou-a numa pétala.
Então, a Polegarzinha teve uma grande surpresa. Ali, no centro da flor estava um principezinho, tão belo e delicado que parecia feito de vidro. Tinha na cabeça a coroa de ouro mais bonita que pode imaginar-se e nos ombros um par de asas coloridas e brilhantes.
Ele não era maior do que a própria Polegarzinha. Era o espírito que guardava a flor. Em cada flor havia uma criaturinha igual, mas ele era o rei de todas.

— Que bonito que ele é! — sussurrou a Polegarzinha para a andorinha.

O principezinho ao princípio ficou muito assustado com á ave, que lhe parecia gigantesca, mas quando viu a Polegarzinha ficou cheio de alegria. Achou que ela era a mais bela de todas as criaturas que jamais tinha visto, mesmo entre as fadas das flores. Tirou a coroa de ouro da sua cabeça e colocou-a na dela e perguntou-lhe como se chamava e se queria ser sua mulher e rainha de todas as flores.
Bem, este marido podia ela amar de verdade. Era muito diferente do filho do sapo ou do velho “toupeiro” com o seu casaco de veludo e por isso disse que sim ao belo príncipe.
Então, ergueu-se de cada flor uma criaturinha, tão pequeninas e tão bonitas que era emocionante vê-las.
Todas deram uma prenda à Polegarzinha, mas a melhor de todas foi um lindo par de asas. Prenderam-nas aos ombros da menininha e agora ela também podia voar de flor em flor. Todos estavam alegres e a era como uma maravilhosa festa de Verão.
A andorinha, lá em cima no seu ninho, cantou-lhes a canção mais bonita que sabia, mas no fundo estava triste porque gostava tanto da Polegarzinha que não queria separar-se dela.

— Não mais te chamarás Polegarzinha, declarou o príncipe das flores. Não é um nome suficientemente bonito para uma criatura tão bela como você. A partir de agora vamos chamar-te Maia!

— Adeus, adeus, disse a andorinha, quando chegou á altura de voar de novo dos países quentes para o oriente. Lá ela tinha um pequeno ninho ao lado da janela do poeta, que adora transcrever contos de fadas, e foi ela quem contou esta linda estória para ele!





Adaptação de CARLOS CUNHA
O poeta sem limites







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