Certa vez, para não começar com “Era uma vez”, fazia parte de uma grande dinastia de coelhos, uma feliz família. Era pai, mãe e até o momento, três filhos. Chamava-se Família Berin
Sr. Berimbuco era o chefe, o cabeça do casal. Cuidava da alimentação e ordem do lar. Juntamente com Dona Berimbaca ,a grande matriarca e senhora total dos afazeres domésticos, dividia a tarefa de educar os três filhos. E todo ano era a mesma coisa. Era chegada a época do plantio de cenouras para suprimentos na chegada do inverno. E assim o chefe da família selecionava as mudas com todo o carinho e lá ia para a roça, planta-las. Os dois filhos mais velhos Berimbica e a coelhinha Berimboca sempre o ajudavam nas tarefas do plantio. Menos um: BERIMBECA.
Era um coelhinho muito bonito, branco, alegre de orelhas enormes, mas muito teimoso e sem a mínima paciência. Como era o caçula dos filhos era sempre poupado pelo pai.
Um dia enquanto seu velho pai fazia as covas, para o plantio das mudas, o jovem coelho indagou:
- Pai! Eu queria comer estas cenouras que você está plantando hoje, amanhã no jantar. Será que vai ser possível.
E o Pai:
- Claro que não meu filho! Só daqui a muitos dias é que estas mudas vão brotar, e começar a nascer nossas tenras cenouras. Até lá vamos ter que trabalhar muito, regando, adubando, capinando, cuidando contra as pragas e vigiando dia e noite contra os invasores. Assim, vamos ter que comer outros alimentos. Precisamos guardar bastantes cenouras, pois o inverno chega logo e ai não teremos o que comer...
- Mas, Papai! Eu queria comer logo amanhã. Não consigo esperar nem mais um dia. – retruca o jovem coelho. Se ao menos eu tivesse uma fada-madrinha, poderia pedir a ela. Mas nem isso eu tenho...
E saiu resmungando, indo se deitar debaixo da sombra de um frondoso e acolhedor carvalho. E adormeceu.
Então em sonho, veio-lhe o que pedira: Sua fada-madrinha. Uma linda coelha, de grandes orelhas e vestes brancas. Sua varinha de condão, era uma enorme e tenra cenoura, que ela segurava em uma das patas.
- O que você quer de mim jovem coelho? – pergunta a fada.
E o assustado Berimbeca:
- Quero comer estas cenouras que o meu pai e meus irmãos estão plantando hoje!!!
- Mas Berimbeca, como é que pode ser. Eles estão plantando hoje, como é que você quer come-las amanhã?
- Ah! – Exclama o coelho teimoso. Isso lá é problema seu, e não meu! Você não é a minha fada-madrinha. Quero comer amanhã e pronto... Problema prá você resolver.
E tem mais: Quero-as bem grandes, certo!
- Tudo bem, coelho teimoso. Se você assim quer, que seja feito. Porém não reclame depois. Amanhã pela manhã quando acordar, bem cedo, já terá nascido todas as cenouras que você pediu.
E sem se despedir desapareceu.
Logo em seguida, Berimbeca acordou assustado mas com olhar de triunfo. Passou pelo pai e pelos irmãos que ainda trabalhavam e disse:
- Amanhã já teremos cenoura. Não se preocupem!!!
E sob o olhar admirado da família, foi para a toca, ficar ao lado de sua mãe.
A noite passou depressa e Berimbeca mal podia esperar o dia amanhecer. Sequer o galo deu o primeiro grito e o apressado coelho saltou para fora da toca e correu em direção a plantação.
Mal podia acreditar. Cenouras enormes haviam nascido e crescido naquela noite. Tudo tinha acontecido como a fada lhe dissera. Em seguida chega toda sua família e também se espantam com aquilo que vêem:
- Nunca vimos cenouras tão grandes. Como pode acontecer isso? – indaga o pai.
E o atrevido coelho:
- Enquanto vocês plantavam, fiquei cuidando de administrar a parte de maior responsabilidade. Intimei minha fada-madrinha a fazer nascer estas cenouras ai que vocês estão vendo. Comigo é assim! Quando quero alguma coisa vou até o fim, e , blá,blá,bla´...
- Mas podem ir comendo que temos cenouras por uns cinco ou dez anos....
Mas quando o patriarca arranca a primeira cenoura e aplica-lhe a primeira dentada, olha com ar de reprovação para o filho:
- Prove você mesmo, então!
Berimbeca pega a enorme cenoura da mão de seu velho pai e faz o mesmo:
- Mas papai! Não tem gosto de nada. Nem cheiro tem! O que será que deu errado?
E sem descer do pedestal:
- Vou chamar minha fada-madrinha agora mesmo aqui, e passar-lhe o maior sermão. Onde já se viu? Cenoura sem sabor... Ah! Isso é que não! Depois de tanto trabalho que tive!!
Mas antes que pudesse chamar a fada ela aparece e indaga:
- Algum problema coelhinho? Aí estão as cenouras que você me pediu. Pode come-las agora.
- Mas não tem sabor! - indaga o coelhinho assustado. Como é que podemos comer cenouras que não tem gosto.
E a sábia fada-coelha:
- Ah! Isso é problema seu! Você é o coelho! Coma-as todas... E tem mais: quando você me fez o pedido, me disse que queria para hoje e que fossem bem grandes. Nada me disse sobre sabor. Por isso aí estão e são todas suas.
- Mas de uma coisa você não sabe: Quem dá gosto aos alimentos, não são fadas mas sim uma mãe muito bondosa... Chama-se Mãe-Natureza. Tudo o que você coloca na terra com carinho e paciência ela te devolve com fartura e sabor inconfundíveis. Aprendas a lição! Não queira nada fácil da vida. Siga os exemplos de seu pai e irmãos. Trabalhe muito e terás prosperidade....
E sorrindo, gesticulou pela última vez sua cenoura mágica sumindo e fazendo desaparecer, todas aquelas que não tinham qualquer sabor.
Então o Sr. Berimbuco, olhou para o caçula, com pena e disse:
- Espero que tenha aprendido a lição, Berimbeca! Daqui para frente, nada de fadas-madrinha e cenouras sem gosto, certo?
- Desculpe papai! Aprendi a lição. Daqui em diante chega de coisas fáceis. Vou trabalhar duro e ajudá-lo a plantar, juntamente com meus irmãos e tenho certeza que em breve colheremos boas e saborosas cenouras.
E foram os cinco, felizes de volta para a toca cuidar de seus afazeres.
O inverno logo chegou e após farta colheita, puderam encher toda a toca, desta vez com tenras e saborosas cenouras e lá ficaram juntos, esperando a chegada da próxima primavera...