A chuva mexia no tempo,
Mexia meus sentimentos,
Chorando na vidraça,
Com suas grossas lágrimas,
Escrevia numa linguagem lúdica,
Mensagem da minha infância.
Com os olhos imitando a janela,
Fiz-me criança, e me transportei,
Para meu passado de liberdade.
Um menino correndo na chuva,
A chuva correndo com o vento,
O vento temendo o tempo,
O menino nada temia,
Só relâmpagos arengueiros,
E trovões mal-educados.
O rio era uma criança,
A criança era um pirata,
As bicas eram cachoeiras,
Com sua água pesada,
Que batia na cabeça
E lavava até a alma,
Jorrando felicidade.
Depois vinha o frio malvado,
A gripe e a pneumonia,
Na cama por vários dias,
Bebendo sopinha deslumbrante,
E tomando injeção tenebrosa,
Mamãe me dava atenção,
E uma maçã envergonhada.