A infância roda o pião
Entregando à mente do homem,
três decênios de ficção.
A adolescência roubou-me
Uma fatia de projeção
Reluz na palma de cada dia
Na fronte do espaço
Algo perdido
Como um plácido pedaço.
Roda gira o pião
Traçando os caminhos da vida,
Nas linhas da palma da mão,
Bola entrando na casinha
Mandando-me pro paredão.
Vou pagar a minha dívida
No preço do garrafão,
Tirei na sorte da infância
Os traços dessa mulher,
Caíram todos os dois
Como a folha do malmequer.
Roda gira o pião
Traçando os caminhos da vida,
Nas linhas da palma da mão,
Hoje rebusco o ontem
Atrás da bola de gude
Ou da bola de meia,
Brincando de pique-esconde,
Ciranda e salve-cadeia.
A princesa e seus lacaios
Trocaram o palácio por casinha,
O vento sopra o papagaio
E ele debicando pede linha.
Roda gira o pião
Traçando os caminhos da vida
Nas linhas da palma da mão.
Correndo atrás da lembrança
Nos cavalos do carrossel
Atravessei o mar vermelho
Num barquinho de papel.
Vou brincar de pega-ladrão,
Prender o imprevisível destino
Que roubou a minha infância
Na palma da minha mão...
Roda gira o pião
Vou rodando sem medida
Até por os pés no chão.