VISITANDO ESCOLAS DA CIDADE GRANDE
O garoto Péricles Norivaldo Boaventura Lopes, ou simplesmente Pé no Bolo, estava radiante, pois tinha voltado, recentemente, de uma viagem que fizera a uma cidade grande de sua região.
Durante esse período aparentemente ocioso, ele não estava passeando com seus pais e irmãos, como o fizera no ano anterior; estivera visitando algumas escolas de ensino fundamental em companhia de sua professora da disciplina de estudos sociais.
A visita inusitada fazia parte de um projeto pedagógico criado pelos professores das escolas de sua comunidade, cujo objetivo era mostrar para os alunos que frequentam as salas de aulas das escolas do interior, as prováveis diferenças estruturais existentes entre uma região e outra promovendo, assim, uma possível integração inter-regional.
Logo de início, o garoto Pé no Bolo ficou surpreso com a quantidade de alunos existente em cada sala de aula e como se tudo isso não bastasse ele ficou chocado com o flagrante desinteresse, assim como a existência de uma indisciplina velada por parte de alguns alunos no decorrer das aulas.
No entender dele, a criança deve estar atenta aos ensinamentos e orientações do seu professor. As eventuais brincadeiras e algazarras, que estavam sendo feitas em plena sala de aula, deveriam ser deixadas para o momento oportuno, ou seja, para o intervalo destinado ao lazer.
Disse, ainda, que tanto lá na cidade grande, quanto cá na sua região, a maioria das escolas não possui microcomputadores para os professores fazerem consultas e que as poucas escolas que possuem esse recurso não o utilizam de forma plena.
Com aquele seu jeito de criança peralta e muito perspicaz ele anotou algumas observações que pareciam ser oriundas de gente grande.
A que mais chamou a atenção de sua professora foi aquela onde ele disse ter visto algumas crianças tristes, com uma leve aparência de mal alimentadas e que elas pareciam ter alguma dificuldade para se concentrar durante as aulas.
No seu retorno às aulas, enquanto ele era “sabatinado” pelos demais colegas de classe, ele disse:
- Eu achava que essas coisas só acontecessem aqui na minha região, onde vivem muitas crianças de pés descalços, assim como eu, mas agora eu sei que elas também acontecem por lá. Até as telhas quebradas de lá se parecem com as de cá. Eu percebi que tanto lá quanto cá, o sol continua com aquele seu jeito mal-educado; vai entrando sorrateiramente nas salas de aula sem pedir licença – sorriu.
Apesar de sua pouca idade, percebe-se que ele tem um senso de humor muito aguçado. Ao se referir às telhas quebradas das escolas de ambas as regiões de forma irônica ele diz que o sol entra nas salas de aula em ambos os casos sem ter sido anunciado, tentando, assim, minimizar o problema.
Pé no Bolo tem razão de sobra. O sol que aquece as salas de aula das escolas de sua região, entrando sorrateiramente pelas frestas das telhas quebradas, é o mesmo que aquece as salas de aula das escolas da cidade grande, apesar das respectivas diferenças circunstanciais.
O que também parece ser igual numa e noutra região é a carência de sensibilidade administrativa das pessoas incumbidas de fazer de modo correto a gestão pública de cada região em particular e o garoto Pé no Bolo não tem muito o que fazer para mudar isso... pelo menos, por enquanto.
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