Essa conversa se deu à noite dentro da geladeira, mais precisamente na gaveta de baixo, onde os legumes dormem e acordam esperando a hora de ser consumidos.
Tudo começou com o choro da batata de inhame.
- Eu sou mesmo uma infeliz! Alem de ser uma batata (tubérculo), sou feia, tenho cabelos em todo o meu corpo e as crianças sequer me conhecem.
Quando sou descascada melo as mãos da cozinheira e depois de temperada e cozida a meninada não gosta da minha cor cinza e nem pensam em me saborear. Mal sabem que eu tenho vitaminas e que faço bem a saúde.
Nesse momento o pimentão se pronuncia:
- Não chore inhame! Eu também sou um legume que as crianças não aprovam. Primeiro porque sou verde, e crianças não gostam de comer coisas verdes. Ainda para piorar sou ardido e bem enrugado. As mães não falam com as crianças que eu também sou importante para alimentação e que posso ser consumido cru, cozido ou assado.
Querendo também participar da conversa eis que se manifesta a abóbora:
- A inhame chora, mas você pimentão também reclama. Eu sou quem deveria estar mais preocupada. Primeiro porque sou partida antes de chegar aqui na geladeira. As cozinheiras reclamam quando minha cor não é bem forte e ainda porque eu logo estrago. Também pudera: Quem não apodreceria se fosse cortado em pedaços e depois guardado?
As crianças? Elas também não gostam de mim! Acham que sou desenxabida. Mas eu sei que também tenho valores nutritivos, principalmente porque contenho bastante glicose (sacarose).
Aí o pepino pede a palavra:
- Se vocês se acham infelizes, o que posso falar? Primeiro: pepino é tudo aquilo difícil de resolver (digerir). Tenho casca dura, sou branco esverdeado por dentro e dizem que costumo provocar indigestão. Muitos me detestam, outros, quando me consomem são prudentes em não comer demais. Vocês ainda podem ser cozidos, mas eu participo apenas das saladas como complemento e só posso ser ingerido cru. As mães com medo evitam que as crianças me experimentem dizendo que posso fazer mal.
Mesmo assim sei que também sou importante para a alimentação, pois tenho nutrientes essenciais como sais minerais.
Ocupando boa parte da geladeira estavam as batatas inglesas que também queriam se manifestar. Logo a maior, mais bonita e lavada tomou a palavra:
- Nós batatas inglesas não temos nada a reclamar. As crianças nos adoram. As cozinheiras nos amam e nos chamam da rainha da cozinha. As mães sabem que sempre seremos consumidas pela maioria das pessoas. Quem não gosta de batatas fritas? Purê de batatas, bolo de batatas, ensopado de batatas, batatas cozidas com maionese? Temos muitas propriedades nutricionais e merecemos sempre o maior espaço entre os legumes.
A cenoura e a beterraba que estavam caladas e no canto da gaveta da geladeira se revoltaram, e juntas fizeram um pronunciamento em defesa dos demais legumes:
- Nós até entendemos o orgulho das batatas inglesas, mas não podemos concordar com a idéia de que elas sozinhas podem fazer toda a nutrição. Afinal, quem comeria batatas inglesas todos os dias sem consumir outros legumes? É bom que elas saibam que também fazemos parte da mesma cadeia alimentar e, cada um de nós tem o seu espaço, pois somamos nutrientes diferentes e quando somos usados juntos ou combinados com outros alimentos proporcionamos aos adultos e crianças uma alimentação de boa qualidade.
Todos os legumes aplaudiram as palavras da cenoura e beterraba que fizeram as batatas inglesas entenderem que sozinhas não poderiam dar a saúde perfeita aos adultos e crianças.
Com o barulho vindo da geladeira àquela hora da noite a dona da casa levantou-se e foi ver o que estava acontecendo: Abriu a porta da geladeira e quando a luz se acendeu os legumes se calaram como nada tivesse acontecendo. E como crianças travessas ficaram quietinhas até a manha seguinte, quando a cozinheira resolveu fazer um “belo cozido”. Todos os legumes foram usados, exceto o pepino e a beterraba que chorosos ficaram aguardando o dia de saladas.
13/03/2010
Paulo M.Bernardo
***A ingestão de legumes é importantíssimo na cadeia alimentar. É necessário que as famílias se conscientizem e ensinem as crianças à importância do consumo de legumes (e também das frutas).***
