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Infantil-->Arapuca -- 21/09/2013 - 07:35 (Brazílio) |
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Me dava gosto espiar papai fazendo a limpeza do quintal. Desbastado o cipoal à foice,
a hora era da enxada capinar e revirar a terra que libertava aquele cheirinho de mato e
umidade na humildade escondida, que liberta, ganhava sob as narinas nova vida.
Mas quando ele investiu de facão naquele arvoredo de assa-peixe - sapêche, a gente dizia -
eu não imaginava o que viria. Dos galhinhos taludos, verdes e roliços, papai resolveu fazer
uma arapuca, coisa que eu ouvira, mas só na cuca.
E na destreza com o cordão, ou cipó mesmo que uniu os dois pauzinhos da base piramidal,
foi subindo, subindo, sempre alternando os lados com gravetos mais finos até chegar ao
topo. E ficou tesa, uma beleza, feito uma casinha. Armou-a, mostrando-me a complexidade
daquele artefato e algum grão há de ter espalhado ali, antes que o cair da tarde nos fizesse
retornar pra casa.
Sei que dormi mal na noite que sobreveio. A ansiedade em saber que ía ter um pássaro na
mão é que esvoaçava o tempo todo na minha cachola. Seria um sanhaço, um sabiá, um
fogo-apagou, um anu, ou um beija-flor? E se fosse um tiziu, um tesoureiro? Ou um canário,
cantador e palreiro?
Mas não deu pra voltar lá no fundo do quintal sozinho no dia seguinte. Nem nos imediatos.
Algo me imobilizava. Até que achei um dia, vai ver que na companhia do mano Beu. E eis
que reencontro arapuca - desarmada! Só que dentro dela, nada! Papai filosofou: a madeira
verde, ao secar, afrouxou, e o passarinho que aí entrou, bateu asas e voou. Sem passarinho
na mão, ficou o consolo de que pras arapucas da vida, com paciência, há saída. |
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