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Infantil-->Os sapatinhos de Chica Lage -- 07/10/2013 - 05:00 (Brazílio) |
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As crianças quando tinham que passar em frente aonde morava Chica
Lage faziam-no no maior cuidado, evitando, buscando o outro lado
da rua e com o passo mais apertado. Principalmente se estivessem
sozinhas. Na companhia de adultos ainda dava pra passar mais pro meio
da rua, nua, sem calçada, naquele pedregulho danado.
Mas o que nenhuma criança resistia era prender a respiração e, ainda
que com o rabo dos olhos, espiar na soleira da porta, ou da janela,
quase sempre fechadas, se estavam ali os sapatinhos de folhas que
Chica Lage mesma fazia, e ali expunha.
Ela não era certa da cabeça, isso todo mundo sabia, até gente que
nunca a via. Contudo, uma coisa estranha eram aqueles sapatinhos, tão
bem-feitinhos que não iam durar mais que um dia inteirinho, pois logo a
folha secava. O que era certo, entretanto, é que no dia seguinte, aquele
mostruário logo se renovava. E parecia que outra coisa a Chica não
obrava. Ninguém a via trabalhar, juntar as folhas com tamanho cuidado,
unindo cabedal, corpo, bico e solado e eis o sapatinho apresentado.
Os mais antigos tampouco sabiam muito mais da vida de Chica Lage,
a não ser que tinha um irmão, o João que muito trabalhava e pouco
conversava.
Diziam que sua loucura fora praga que um padre rogara. Os pais teriam
feito alguma maldade ou uma blasfêmia, e o padre, agravado, teria pego
um punhado de poeira, jogado pro ar e lançado a terrível praga. Que só
pegara na menina, poupando-lhe o irmão João.
Será isso coisa de religião? Se fô, num vô querê não. |
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