Era uma boa menina a Eponina. Estudiosa, zelosa com seus irmãos menores e com os afazeres da casa, cujos pais, Agenor e Liduína, operários, lutavam com grande dificuldade. Sendo a filha mais velha, nos seus onze anos de idade, o pai levou Eponina à mata, para instruí-la na cata de frutos silvestres, raízes e folhagens comestíveis, para complementarem a dieta da família. E voltaram com os bornais carregados da generosidade da natureza. O que chamou mais a atenção de Eponina foram os cogumelos que, segundo o seu pai, poderiam ser próprios para a alimentação, ou muito tóxicos, a ponto de envenenarem o organismo. Assim, explicou-lhe ele, era necessário o conhecimento e a observação apurados para se evitarem possíveis tragédias. Eponina ouviu com todo interesse as explicações de seu pai. Mas ficou com a pulga atrás da orelha quanto a uns cogumelos que o povo chamava popularmente de orelhas do diabo, que geralmente nasciam nas fendas de madeira apodrecida.
E à noite, depois de ouvirem notícias aterradoras no rádio, sobre a pandemia do corona-vírus, foram todos dormir. E o sono de Eponina foi tumultuado por pesadelos, em que ao jantar fora-lhe servida uma sopa esquisita, feita aparentemente de asas de morcegos...que tinham justamente o aspecto dos cogumelos estranhos...Dormiu mal, acordou temerosa, engoliu seus soluços e mal retomou o sono, já foi chamada para ir para a escola matinal, que ficava a boa distância de sua casinha.
Quando narrou o pesadelo à professora, a classe aprontou um estardalhaço, que levou Eponina ao pranto. E a ganhar o apelido de Eponina cloroquina...Mas a mestra a defendeu, passando um sermão em toda a turma e por uma semana somente Eponina pode ir ao recreio.
.
|