Vassouradas
Aos oito anos Bibi, reclusa e se sentindo ociosa nos vagares da pandemia, foi convocada por dona Maria, doméstica, para lhe dar uma ajuda nos arranjos do apartamento. Coisa leve, mas educativa, pensou a zelosa dona Maria. E Bibi não se negou a coloborar. Em seu caso, com umas boas vassouradas.
Ao cabo da quase eternidade de uma hora de labuta, eis que chega a mãe de Bibi, que orgulhosa, aplaude o espírito de cooperação da menina. Mas não fica só nisso: estarrece-se diante da exigência de Bibi de receber, proporcionalmente, parte do salário de dona Maria. Exigência irredutível, embora tão-somente salarial, pois não contava, por exemplo, indenização por exploração de menor, insalubridade etc...
Ante a insistência de Bibi, que elevou o tom verbal de sua reivindicação, entra na litigância sua irmãzinha menor, Lelena, de três anos e pouquinho, testemunha ocular e, felizmente, judiciosa do quid pro quod:
- Ô Bibi, assim não pode, o que você tá exigindo é muito caro, muito caro...
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