Do boteco pro bar foi o Teco mudar. E não num tico, mas em dous tempos porém, pra
não estafar. E tudo ali do lado de cima da pracinha da estação e da fábrica do povoado
de São Gonçalo do Brumado.
O boteco era miúdo, singelo e a lembrança que a ele me prende é de ver, e cobiçar, entre
as miudezas expostas na vitrine do balcão, os cadernos escolares "Avante", o chaveiro
a que se chamava comumente de "pegadô" e os bonés da aba espelhada. Sem lograr
meus intentos imediatos de terceiro grau, contentei-me com um par de bolinhas de gude
que a venda de garrafas vazias, e laboriosamente por mim asseadas, havia produzido.
Transação toda efetuada no próprio boteco do Teco. Que, aliás, era parente, de terceiro
ou quarto grau.
Já o bar, ah, o bar era mais espaçoso, tinha mesas e cadeiras espalhadas, mesa de sinuca,
a geladeira enorme, horizontal, de onde saíam os picolés, os sorvetes e as cervejas
que a homaiada do vilarejo consumia e, que para deixarem o registro de seus feitos,
dipelavam os respectivos rótulos que se soltavam com facilidade assim que a garrafa
começava a "suar", e o passavam para o forro de madeira verde no teto do bar. E do
piso de vermelhão a gurizada - e se quisesse, também a muierada - podia apreciar aquele
espetáculo inusitado bem acima de nossas cabeças, de rótulos de cerveja colados no
teto, como se fosse um ceuzinho particular, estrelado aquele bar.
Nunca cheguei a ver a materialização de uma ação daquelas, mas minha suposição é de
que a mágica se produzia com a ajuda de um lenço de bolso, dobrado, bem empapado
de umidade, sobre o qual se colocava o rótulo virado com o respectivo traseiro pegajoso
para o forro verde.
E o bom Teco, cujo nome, pelo visto, era Evaristo, mantinha-se impassível, servindo
a freguesia, rodeado das suas muitas filhas moças que, na falta dum filho varão, em
mutirão, nunca o deixavam na mão. E enquanto acumulavam um modesto tesouro
quiçá, distraído o olhar do pai, se arriscavam a algum namoro, sem porém perderem o
bom decoro.
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