O cão raspava o chão de tábuas da sala
Todos os dias no mesmo horário.
Ansioso, se cansava, desistia da tarefa.
Correndo para o quintal.
Um pau de lenha às vezes o acertava
Sempre nas patas de trás.
-Sai cachorro maldito,
Ainda me furas o assoalho
Sei ser esta a tua intenção.
Que tanto queres lá embaixo?
Não há nada no porão.
Além de chorar escandaloso
Mancava a cada dia mais.
Mas sempre repetia a tarefa
Com afinco e determinação.
A tal ponto chegou seu intento
Que um buraco no assoalho se fez
E uma luz muito brilhante surgiu
Logo na primeira frestinha.
Se espremeu, se espremeu.
Tão fininho se fez
Que pela fresta estreitinha
Com muito treino e vontade
O cão desapareceu
Caiu na luz do porão
Das pernas não mais precisava
Embalado na luz muito forte
Surfou para a liberdade.
Alguns ainda perguntam
Para que tanto trabalho?
Se para conquistar a liberdade
Bastava pular o muro.
O cão, não sei se interessa,
A todos poderia informar
Que a liberdade tão fácil
É caso de corrupção.
Mas aquela alcançada com o esforço
Com o sonho e a determinação
É que redime
O cidadão, ou um cão.
E assim contei a estória do cão e o porão.
Muitos preferem pular os muros,
Outros cavar seus sonhos
Se encolher perante o destino.
Passar mancando pela vida.
Sem se jogar na luz,
Que pode ser da inteligência
Ou da determinação.
E para esclarecer o caso
Deixo esta mensagem.
Às vezes muito difícil,
Tão difícil e improvável
A porta se abre para a felicidade
Numa frestinha de luz
Para não terminar sem o desfecho
O cão vai bem obrigado
Navegando sorridente
Na luz da felicidade.
Conquistada dia a dia
Raspando a vida
Buscando a luz
Levando paulada
E escolhendo entre
Pular o muro
Ou viver seus sonhos.
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