Um pingo d’água conservador e pacato vivia
tranqüilo no seu pequeno lago no alto da montanha.
Ficava sempre no fundo do lago.
Raramente emergia ‘a superfície.
Correria o risco de se evaporar.
Para quem escolhera habitar eternamente
a serena nascente, tampouco lhe agradadaria
a idéia de se aventurar pelas margens.
O risco de embarcar numa viagem torturante
até o mar era muito grande.
Estava feliz no seu mundo de silenciosa inércia.
Um fatídico dia, porém, recebe um telegrama. O Deus Indra o convoca para uma missão na planície. Terá de irrigar uma lavoura. O pobre pingo d’água se turva de medo. Por quê, justo ele, que sofria de acrofobia desde criancinha, fora escolhido? Ter de saltar de enormes cachoeiras... Não! Nunca! Preferia evaporar-se...
No entanto, não tinha escapatória.
O Deus Indra o devolveria ‘a missão através
da chuva.
O pingo d’agua, banhado em lágrimas, agoniza.
Entre pequenos saltos e mansas corredeiras,
inicia sua “via crucis”.
De repente, se vê próximo da grande cachoeira.
Seu corpo úmido estremece.
Seu coração congela.
Sobe ‘a superfície e, subitamente, fica tudo
escuro ‘a sua volta:
A um metro da queda fatal, fora bebido
por um passarinho.