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Infanto_Juvenil-->O ENTERRO DO BESOURO -- 07/02/2004 - 20:10 (Sonia M.Delsin Lencione) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Os olhos do menino, através das lentes, não desgrudavam daquele esmagado besouro.
─ Você é má. Pisou no pobre coitado.
─ Ah! Marco, eu não fiz por querer...
Os olhos da garota estavam cheios de lágrimas.
Ah! Isto ele não podia agüentar.
─ Agora chora, sua sonsa. Por que não olha onde pisa?
Ela o pegou pela mão tentando puxá-lo e foi falando meigamente:
─ Agora não adianta mais ficar bravo comigo. Eu já pisei, já o matei. Vamos assistir ao enterro.
─ Que enterro?
─ Então não sabe que as formigas virão fazer o enterro do pobre?
Magoado ele respondeu que era óbvio que sabia. Não era nenhum tolo. Cansara de ver estes enterros.
Mantinha os pés pregados no chão e ela tentava puxá-lo.
─ Não vou a lugar algum. Esperarei aqui pelas formigas.
─ Vai anoitecer...
─ Que me importa?
Ela o estreitou pela cintura tentando convencê-lo. Marco nunca agüentava quando ela o agarrava daquela forma.
─ O enterro será feito amanhã. As formigas chegarão ao amanhecer.
─ Quem lhe disse? E se elas quiserem enterrá-lo agora?
Ela disse que estava certa que seria ao amanhecer.
─ Vamos levantar bem cedo. Marque bem o local. Embaixo desta grande figueira.
Ele acertou os óculos e tentou fugir daquelas mãos macias que o convenciam sempre a fazer o que não desejava. Quem sabe se as formigas ainda viriam...
Puxando-o pela mão passaram pelo lago. Marco abaixou-se para pegar uma pedra e ela o impediu.
─ Seu tolo! Quer destruir a natureza?
─ Não fui eu quem matou um besouro.
─ Eu já disse que foi sem querer.
Ela esmagava a mão do amigo dentro da sua e com uma careta de dor, o garoto desabafou:
─ Feia!
─ Você é feio. Eu sou bonita.
─ Convencida!
Ele tentava soltar a mão e ela a estreitava ainda mais.
Marco resolveu pedir desculpas e os dois já estavam no momento seguinte a sorrir.
Mariana despediu-se do amiguinho e subiu a escadaria cantarolando. As sombras já cobriam a fazenda.
─ Onde andou minha filha?
─ Estava brincando com Marco.
─ Sabe que seu pai não aprova esta amizade.
A menina simplesmente sorriu e afastou-se em direção ao quarto.
A mãe continuou o bordado e a noite tomou conta das coisas.
Na manhã seguinte.
─ Por que se levantou tão cedo minha filha?
─ Vou ver o enterro do besouro.
─ Que besouro? ─ perguntou o pai a sorrir.
─ Um que matei ontem.
─ Esta hora as formigas já o paparam.
─ Acha mesmo papai?
─ Claro! Elas não perdem tempo.
─ Trabalham de noite também?
O pai disse que elas provavelmente já o teriam carregado sim.
Tomaram o café da manhã conversando e o pai foi expondo a filha que no próximo mês ela se mudaria para a capital.
─ Não quero ir papai.
─ Por que não minha filha? Precisa estudar.
─ Não posso estudar por aqui?
─ Não. Quero que se prepare para a vida...
─ Não quero deixar a fazenda.
Arthur a olhou nos olhos e perguntou de chofre:
─ Não quer deixar Marco? É o seu amiguinho que não quer deixar?
─ Papai, eu amo este lugar. Não quero me afastar.
Ele a olhou um tempo e disse por fim:
─ Vai mudar-se para a capital. A última palavra é a de seu pai.
O coraçãozinho de Mariana doeu no peito. Não deixaria aquele lugar que amava, não deixaria Marco.
─ Não quero ir papai.
O pai simplesmente ignorou as últimas palavras da filha. Limpou a boca com um guardanapo e deixou a mesa.
A menina ficou a esmagar um pedaço de bolo na toalha e Noely ralhou com ela.
Ela levantou-se e seguiu em direção à figueira. Marco a esperava.
─ Ele não está mais aqui. As formigas já o carregaram.
Ela segurou a mão do amigo e disse:
─ Marco, eu vou partir no próximo mês.
─ O que diz?
─ Que meu pai decidiu que estudarei na capital.
O menino baixou o rosto tristemente. Lágrimas pingavam de seus olhos, ensopando os óculos.
─ Não quero que vá.
─ Também não quero ir.
De repente Mariana gritou:
─ Veja, elas o carregam.
As duas crianças ficaram assistindo aquele enterro. Os olhos lacrimejados. Os dois choravam não pelo besouro morto, mas pela separação.
A fazenda seria um tédio sem a amiguinha, pensava o garoto.
Mariana pensava no quarto frio que a aguardava num colégio interno, quando ali tinha o mundo que tanto amava e tinha Marco.
Os dois abraçaram-se quietamente diante das formigas que formavam uma trilha por entre as folhas mortas.




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