Ele corre. Desesperadamente. Sente dores pelo corpo. Está com a respiração ofegante. seus pés doem, mas ele ainda corre. Sabe que precisa correr mais ainda. Ele é jovem, magro. Tem a aparência cansada. Todos olham aquele jovem correndo desesperado, mas ninguém o segura, ou mesmo pergunta por que corre. Passa pelo meio das pessoas, esbarra nelas, mas nem sequer lhes diz desculpas, apenas corre. Chega a uma rua impedida pela feria livre, muita gente reunida. Para um pouco. Pensa em descansar. Mas acha melhor continuar andando. Anda olhando para os lados, desconfiado, e sempre apressado. Precisa chegar em seu prédio logo. Segura as chaves de seu apartamento com força nas mãos. Passa a feira. As pessoas o olham. Ele volta a correr. Está próximo de sua casa. Sabe que lá estará seguro. Finalmente seu prédio já começa a aparecer. Chega suado. – Oi Pedro, parece assutado – o porteiro, estranho o comportamento do inquilino sempre disposto a papear, mas ele sobe sem dizer uma palavra. Sobe pelas escadas. Tem medo de tomar o elevador. Com dificuldades, muito cansado, chega em casa. Com as mãos tremulas abre a porta do apartamento, entra apressado e em seguida fecha-a atrás de si. Toca o telefone. Uma, duas, três vezes. Ele não quer atender. Quatro vezes, atende. Ouve uma voz familiar do outro lado. – Não, por favor, isto não - grita ele no telefone. – Por favor!. Começa a chorar. Deixa cair o telefone. Olha pela janela. Está no 10º andar. Corre para a porta, abre-a, e tomando coragem, chama o elevador. Está vazio. Sobe até o terraço. Sempre ia ali para descansar e ver o movimento. São cinqüenta andares. Aproxima-se da ponta. Fica olhando para o infinito. Chora. Começa a aglomerar gente. Gritam para ele. Ele não escuta. Apenas olha o infinito, e sente o vento acariciar-lhe o rosto. Apenas olha o infinito.