As histórias que o vovô de Guto contava eram quase sempre sobre a natureza. Ele adorava esse tema.
_ Vovô, a natureza é boa, ou má?
_ Ela é cheia de sentimentos, mas não são bons ou maus. Eles são as reações que tem de como é tratada. Ela é muito boa para quem a trata bem, e muito má para quem a trata com maldade. Eu diria que ela é mais como um espelho, que mostra a cara de quem convive com ela.
_ Mas e o vento não é mau?!...
_ Não, filho!... Nem o vento é ruim... Ele também pode nos ajudar se nós soubermos aproveitá-lo.
_ Como assim?...
_ O vento por exemplo, pode levar um barco à vela a dar uma volta ao mundo... Mas é preciso que os marinheiros conheçam a força dele, e até os perigos dessa força... Ele pode também girar moinhos, gerar energia elétrica, e até sustentar aviões muito pesados no ar.
_ E pipa também?
_ Pipa também. Mas como eu falei de perigo, soltar pipa, pode ser tão perigoso, como navegar no mar...
Guto ficou pensativo de repente, e nem ouvia mais. Perguntou:
_ Você sabe fazer pipa, vovô?
Sem esperar a resposta, se lembrou de um livro, e correu para a estante, para pesquisar como é que se faz uma pipa. Não muito tempo depois, estava no campinho de futebol soltando uma.
O vento estava calmo no começo, e a pipa tremulava suavemente, subindo cada vez mais. Mas começou a soprar cada vez mais forte. E uma cara sorridente que o menino havia desenhado no brinquedo, ficava cada vez mais séria, e por fim se transformou em uma carranca nervosa.
Guto pensou em soltar a corda, mas num instante, resolveu que não. Mais um instante depois, se arrependeu de não ter soltado, mas era tarde, porque estava suspenso no ar. E já não podia mais soltar, porque estava longe do chão poucos segundos depois de decolar.
O medo tomou conta do garoto, que estava assustado com a cara de má da pipa, e o som nervoso do vento que dizia:
_ Você foi avisado, menino!... Fuuuuuuuu!!!
_ Por favor vento, estou com medo!...
O vento continuava soprando nervoso.
_ Por favor pipa, me ponha no chão!...
A carranca respondeu:
_ Eu não posso, porque obedeço ao vento.
_ Por favor, vento!...
Mas o vento não tinha ouvidos. Só tinha uma boca enorme que soprava, e soprava... E levava o menino para cada vez mais longe, por lugares que não conhecia.
Mas uma outra corrente de ar mais calma entrou na brincadeira, e tomou a pipa da primeira, e a pousou, mas longe, muito longe de casa.
A noite estava chegando, e ele andava sozinho pela mata, sem saber onde estava. Encontrou uma caverna e dormiu. Só acordou quando o dia começava clarear. Era um dia bonito, ensolarado, e os pássaros davam o tom de alegria com cânticos.
Levou um grande susto, quando ouviu uma voz grossa atrás de si:
_ Está perdido, garoto?
Olhou depressa, e viu vaca.
_ Ai que susto você me deu!... Estou perdido sim... Você pode me ajudar a voltar para casa?
_ Não. Eu não sei. Aqui quem sabe tudo é o sapo.
O garoto foi até à lagoa, e perguntou:
_ Seu sapo, sabe como é que faço para voltar pra casa?
_ Eu sei tudo sobre a lagoa, mas tenho um amigo que sabe tudo sobre viagem. E assoviou, e apareceu o gavião.
_ O nosso amigo está perdido, amigo gavião. Você pode ajudá-lo?
_ Claro que posso!... Onde você mora, amigo?
_ Perto da Lagoa Oeste.
_ Esta é a Lagoa Leste, - disse o sapo.
_ Então, é só voar para o lado que o sol se põe, - disse o gavião.
E pouco tempo depois, Guto estava nas costas do gavião, e o vento dessa vez batia em seu rosto, mas ele não tinha medo.
_ Não é perigoso voar, - perguntou o menino.
_ Não. Mas se nós soubermos obedecer as regras da natureza. Voar na tempestade, é perigoso. E também, é perigoso sair sem saber para onde está indo. Mas a natureza também nos ajuda nisso...
Guto estava contente. O vento agora era calmo, e acariciava seu rosto, na gostosa viagem de volta para casa...