Meu encanto por Luzia começou quando eu tinha cinco anos. Ainda me lembro, mesmo que vagamente, do dia, o qual não sei qual era, somente que chovia muito, e eu e minha irmã mais velha brincávamos na chuva. Estávamos imundos.
Minha mãe no proibiu terminantemente de entrarmos em casa daquele jeito, então teríamos que nos limparmos do barro no tanque de lavar, que ficava na entrada da cozinha.primeiro minha irmã, depois eu. Quando fui subir no tanque, que era muito maior que eu, apoiei o peito em sua borda. Somente me lembro de flash, mas sei que ele veio por cima de mim, e ganhei uma bela fratura na perna.
Foi ai que me encontrei pela primeira vez com Luzia, mesmo sem saber. Minha mãe fez uma promessa (e eu nem sabia o que era promessa): eu seria levado vestido de anjo em uma procissão de Corpus Christ e a roupa usada seria colocada em seu tumulo.
No dia de Finados, o cemitério cheio de pessoas que homenageavam seu mortos com orações e flores, lá estávamos nós, eu e minha mãe, diante do tumulo dela. Não sei se já tínhamos ido outras vezes, mas esta vez me marcou, pois estávamos ali por minha causa. Estávamos ali para depositamos algo que era meu.
O que significava aquele gesto de minha mãe? Por que deixar minha “roupa de anjo” naquele tumulo, ali no cemitério? E o que mais me intrigou: Quem era Luzia?
Minha mãe me explicou meio por cima, que Luzia do Prado (o nome completo dela) fora um moça muito boa, que fora assassinada a muito tempo. E que estava no céu rezando por nós.
Não entendi nada, mas aceitei calado, e encantado cada vez mais com ela.
Mas por que ela foi assassinada? De onde ela veio? Quem eram seus pais? Enfim, quem realmente ela era.
À medida que eu crescia, e meu raciocínio deixava de se contentar com as explicações dadas na infância, mais eu procurava entender Luzia.
Descobri que ela era uma jovem muito devota, de família bem pobre, e que morreu para preservar a virgindade e a honra. Que seu corpo não foi aceito na Igreja quando morreu que após isto, o padre teria sonhado com ela lhe perdoando. E que alcançava graças junto a Deus a quem lhe buscasse.
Quando entrei na faculdade de História, percebei que minha cidade não valoriza seu passado, seus mitos e seus personagens. O máximo é um nome de rua aqui ou ali, e só. E Luzia foi um personagem que marcou. E as novas gerações não a conhecem, nem suas virtudes, nem seu exemplo. Por isso decidi fazer uma pesquisa histórica sobre ela. E esta pesquisa quero compartilhar com vocês.
Vos apresento Luzia!.