Ele não acredita no que vê. Nunca em sua vida imaginou que pudesse ser traído e abandonado pela pessoa que ele mais amava. A única pessoa que ele amava. Mas era mesmo ela. Aqueles penetrantes e enigmáticos olhos verdes. Os cabelos aloirados e a pele branca. Não era de grande estatura, mas tinha um corpo bem torneado e sedutor.
Ela conversava com eles em uma língua desconhecida a Pedro. E pelo tom parece que são conhecidos de longa data. A um deles, não o mais velho, mais o que aparenta ser a maior autoridade, fala num tom de respeito filial. Sem o fitar nos olhos, acata com veneração suas palavras. Por fim, inclina-se diante dele, tomando-lhe as e as beijando com profunda devoção.
Ela tem um olhar úmido agora, parecendo saber que algo terrível pode acontecer. Olhando para Pedro, ela o encara pela última vez. Pedro percebe que, mesmo tendo o entregado a eles, ela ainda o ama. É a ultima vez que a verá. Mas sabe que ela ainda o ama.
Mas se o ama, porque o traiu, porque o entregou.
Ela sai acompanhada de um deles, e somem na escuridão. O local é úmido, sombrio, abandonado.
Aquele a quem ela beijara a mão conversa com um outro, mais velho, e, por incrível que pareça, de feições dócil e amistosa, e também sai, acompanhado de um outro, jovem como Pedro.
Ficaram quatro. Um velho e três moços, um deles ainda imberbe, aparentando uns dezessete anos. Estão visivelmente nervosos. Não olham nem se aproximam de Pedro, que se encontra em um canto, amarrado e amordaçado.
Mas Pedro, não sabe como, sabia perfeitamente como se livrar das amarras que o prendiam. Sabia perfeitamente, como se mãos invisíveis o movessem, como se soltar, saltar sobre o velho, e com um golpe nas costas pô-lo fora de combate. Apoderar-se do facão que estava nas mãos dele, e com esse facão, atacar os outros três, dos quais, apenas um estava armado com uma foice. Sabia também, com que movimentos poderia se desviar do golpe da foice, e com o facão perfurar o corpo do jovem que a manobrava. Ao ver este caído, ainda desfere um ultimo golpe com o facão, sendo este golpe suficiente para decapitar o jovem que jazia no chão. Com a foice, num golpe certeiro, quebra a perna do mais jovem dos seus raptores. E quando foi atacado pelo ultimo que estava de pé, com o facão, decepa o braço que tentava acertá-lo com um soco, e num golpe de ira, quebra o cabo da foice no crânio do atacante.
Quando o velho tenta se levantar, é recebido por uma lâmina no estomago, abrindo seu ventre.
O jovem, que ainda estava vivo, embora imobilizado pela fratura na perna, começa a gritar por socorro. Pedro aproxima-se dele, e o segura pelos cabelos longos, erguendo-o do chão. Ele era jovem, magro, e agora, pálido pelo medo e pela dor.
Pedro não sabe o que esta acontecendo, ma tem um único desejo, o sangue do jovem. Aproxima sua boca do pescoço do rapaz, mesmo sentindo-se uma repulsa, não consegue parar. Tem tempo de ouvir o jovem gritar em alta voz:
- Отcе nаs, suscii nа nеbеsаch!.. Ibо Тvое еsт Cаrsтvо i sipа i spаvа vо vекi.
Амin ...
Morde, morde com força, morde com raiva. O jovem se debate, Pedro crava seus dentes no pescoço dele, o sangue escorre por sua boca, um sabor inebriante lhe sacia.
O jovem para de se debater, esta morto. Estão todos mortos.